Num misto de menosprezo pelas autonomias regionais, inabilidade política e desesperos pessoais, o PS requereu na Assembleia da República audição de várias entidades sobre o incêndio ocorrido na RAM em agosto passado. Por outras palavras, pediu que na AR se exercesse fiscalização sobre o Governo Regional.

Confesso que não percebi! Pretendeu o PS nacional passar um atestado de incompetência aos deputados socialistas em funções na ALRAM? Ou recuperar um qualquer exercício saudosista de tutela colonial sobre a ilha adjacente? Confesso que também não quero perceber!

Que eleitos socialistas regionais aceitem ser secundarizados e tratados por incompetentes, é para o lado que durmo melhor! Mas que um novo colonialismo sobre a Região Autónoma seja requerido por socialistas nacionais e caucionado por algumas forças políticas com assento na AR não aceito. Mais que mau, é perigoso. Hoje é uma audição, para a semana um parecer, daqui a dias uma competência!

Os socialistas queimam a autonomia, atropelam a assembleia legislativa regional, passam por cima dos eleitos na RAM, cegos pelas frustrações de projetos políticos falhados há décadas.

Fazer ouvir governantes nacionais na AR a discorrer sobre um incêndio na região não é só desconsideração autonómica. É a certeza que, passados quase 50 anos, alguns ainda não vivem a Autonomia conquistada. A estes, juntar-lhes camaradas escolhidos a dedo que, provavelmente, nunca conheceram as especificidades destes teatros de operações, para caucionarem de lá para cá os seus delírios partidários, é vil e rasteiro.

Que valor tem para estes socialistas a constituição, o estatuto político administrativo, as leis de bases, os órgãos de governo próprio, os eleitos regionais, quando a matéria é de exclusiva competência regional? Que valor tem para os socialistas que o órgão fiscalizador do Governo Regional seja a ALRAM e os eleitos pelos madeirenses?

Para os socialistas locais não há valores autonómicos! Tudo vale para disfarçar a sua incompetência e inabilidade política na fiscalização da ação governativa. Ferem de morte o Estatuto, queimam a Autonomia, atraiçoam os madeirenses!

Esta semana em dois parlamentos falou-se de um incêndio regional. Para alguns foi normal. Para outros até relevante. Para mim foi tentativa de luto autonómico. Aceito requerimentos, audições, comissões de inquérito, debates potestativos, demais diligências e até rodriguinhos processuais, desde que exercidos na ALRAM, sempre que a matéria for de competência regional!

Não menosprezo nem me furto a um bom combate político, ideológico, duro e leal. Até aprecio, tão raros que são! Mas não pactuo, nem me silencio perante tiques neocoloniais socialistas, ou de qualquer outra força política, que atentem contra a Autonomia das Regiões e abram a porta a retrocessos nos poderes conquistados. Não passarão!

Sim, a Autonomia é de todos! Urge comemorá-la e renová-la nos seus 50 anos, pois alguns a ultrajam e diminuem sempre que lhes for partidária e pessoalmente conveniente!