O Génesis é um dos livros mais comentados do Antigo Testamento.
Faz parte da vida da Igreja, o tema dos seis dias da Criação, o shabat dos Judeus e a semana de sete dias, com o repouso dominical, é parte integrante não só da vida dos cristãos, mas de toda a humanidade.
Desde os inícios da Igreja os santos mais ilustres e sábios comentaram este livro. Entre os Padres da igreja grega, São Basílio de Cesareia e São Gregório de Nissa da Capadócia, da igreja latina, Santo Ambrósio de Milão e São Beda, dos sírios São Tiago de Edessa. Entre os que comentaram mais ou menos longamente encontram-se as homilias de Orígenes, o Comentário de Santo Éfrém, as Homilias de São João Crisóstomo, encontramos uns fragmentos em Teodoro de Mopsuéstia, de Teodoreto as Questões, pequenos tratados sobre o paraíso de Santo Ambrósio, assim como sobre Noé, a Arca e Isaque. São Jerónimo trata das Questões Hebraicas, Santo Agostinho tem um vasto estudo sobre o Génesis, contra os Maniquêus, nas Confissões os capítulos XI-XIII, São Cirilo de Alexandria escreve sobre os Glaphyra, Procópio de Gaza sobre a interpretação. Na Idade Média são numerosos os tratados que não é necessário enumerar. Na atualidade, sobre a Criação, o Cardeal Joseph Ratzinger, que depois foi o Papa Bento XVI.
Além de tudo isto, os Padres da Igreja reconheceram em algumas narrações e pessoas, realidades do Novo Testamento, viram em Adão a Jesus Cristo, no dilúvio a figura do batismo e do paraíso, ainda no dilúvio um símbolo do julgamento final, na Arca, a imagem da Igreja que recolhe todos os crentes. O sacrifício de Isaque foi explicado para significar a paixão de Cristo, estas aproximações nutriram a piedade cristã de muitos fiéis, Abrão tornou-se o modelo da fé e da fuga do mundo.
O Peregrino Abrão
Quando Abrão ouviu o chamamento de Deus, ele residia em Ur da Caldeia, a sua história, antes de ser escrita, foi transmitida oralmente durante oito séculos. Ele deixou a sua cidade rica de Ur, cerca do ano 1800 a 1850 antes de Jesus Cristo. Viveu numa cidade e numa civilização que começava a envelhecer, num tempo em que grandes embarcações chegavam do oriente carregadas de especiarias e de seda. Era o adorador de uma divindade do céu que se identificava com os astros celestes. Cada cidade e cada família tinha um seu deus protetor.
O Senhor disse a Abrão: “Deixa a tua pátria, a casa de teu pai, e vai para o país que Eu te indicarei”. Ele deve deixar e romper com as cidades duma civilização rica e comercial e retornar a uma vida austera de nómada como a dos seus antepassados.
Nesta época, Abrão sofria uma grande tristeza, sua esposa Saray era estéril, não tinha filhos, quem deveria herdar os seus bens, os rebanhos, os seus pastores, situação que para os semitas era a maior de todas as desgraças que podia acontecer a um homem? Nessa época, a sobrevivência para um homem realizava-se na sua descendência e na memória que deixava aos seus sucessores. Vida que não gerava posteridade era vida sem sentido.
Deus chamava-o, ainda não tinha revelado tudo a ele, mas diz-lhe: “Farei de ti um grande povo”. Esta palavra divina enche-lhe o coração, dá-lhe coragem para partir para o desconhecido, não se preocupa com uma língua diferente, vai aprender o hebraico em Harran que será a língua do seu futuro povo.
“Abrão partiu, como lhe tinha ordenado o Senhor, com ele partiu Lot. Abrão tinha 75 anos. Quando deixou Ur, tomou sua mulher Saray, e Lot, filho de seu irmão, e todos os seus bens que tinha adquirido em Carran”. Chegaram ao país de Canaân.
Daí para a frente, toda. a sua vida será um longo caminho, um peregrinar atravessando a atual Turquia, a Síria, a Jordânia, para entrar em Canaãn, a atual Palestina, chegando até ao Egito, conduzindo os seus rebanhos, os seus pastores nas colinas da Judeia, da Galileia, para Sichem até ao deserto de Bersabé, um peregrinar que parece não ter fim, na realidade nunca mais terá fim...Mais do que geográfico é um peregrinar espiritual, aproximando-se de um Deus que o prova e o ama, progredindo sempre no caminho que o aproxima do seu Senhor, que se dá conhecer e se apodera da sua vida. Em Sichem construiu um altar ao Senhor, plantou a tenda em Betel onde levantou um altar ao Senhor, levantou a tenda e foi acampar no Negheb. Deus fez na Bíblia uma grande promessa a um ancião sem filhos, deixa-lhe uma promessa de posteridade: “Farei de ti um grande povo e te abençoarei, tornarei grande o teu nome e tornar-te-ás uma Bênção”. Na Bíblia, Abrão é chamado o amigo de Deus, que muda o seu nome para Abraão e o de sua esposa para Sara. O Altíssimo contrai com ele uma Aliança, assinalada com a circuncisão para todos os seus descendentes, ele será pai de uma multidão de povos. “Caminha na minha presença”, peregrina, avança, perdoa, não desprezes Ismael que será pai de um grande povo; discute com Deus para não destruir Sodoma e Gomorra, insistindo como fazem os beduínos nos negócios. Deus prova-o para imolar Isaque seu único filho, mas não o deixa imolar, recebe três estrangeiros e trata-os com a maior hospitalidade, que perdura na maneira de agir nos cristãos e islamitas. São Paulo ficou fascinado por este crente pela sua grande fé: “Ele teve fé esperando contra toda a esperança e assim se tornou pai de muitos povos, como lhe fora dito: assim será a tua descendência” (Rom.4,18).