Alguém que estava a preparar-se para ir para a escola pensa: ‘Escola para quê? Nas obras ganhava o dinheiro de que precisava, mas a minha mãe quer que eu estude.’ A mãe já saiu de casa e chegou ontem muito tarde, como todos os dias. Ela trabalha muito. O dinheiro nunca chega...
Recebe uma chamada, ouve-a, desliga e pensa: ‘A polícia matou o meu vizinho? Ele não era bandido? Malditos! Um dia pode ser eu!’
A Esperança é responsável pela motivação individual para a continuação da vida, independentemente de quem somos ou de onde estamos. Com esperança, as pessoas fazem coisas muitas vezes descritas como inexplicáveis ou até impossíveis. Impossíveis até serem feitas?
Mas a esperança, às vezes, morre. Mesmo com a possibilidade de ressuscitar.
Morre devido às situações da nossa vida, aos acontecimentos que direta ou indiretamente nos atingem, provocados por outros, por nós ou pelo ambiente.
Sempre que observo atos de violência, que normalmente têm por base o sentimento de raiva ou ódio, penso na esperança.
Não consigo deixar de estabelecer a relação entre o ato e o sentimento.
”Alguém olha à sua volta. Só vê lama e destruição. Questiona-se: ‘Por que não fui levado pela tempestade? Porque é que o governo não nos avisou a tempo?’
Se soubesse, teria chegado a tempo a casa e protegido a sua mulher e o seu filho. Estão os dois no hospital, gravemente feridos. Perderam tudo... ‘Como é que vou recuperar?’ Ao longe, vê uma comitiva. Os reis? Agarra um punhado de terra: “Assassinos!”
A violência é um ato de desespero, podendo tornar-se numa “pescadinha de rabo na boca”, porque violência gera violência.
A violência pode ser classificados em três tipos: autoinfligida, interpessoal (doméstica e comunitária) e coletiva. Pensando nesses tipos, os que cometem violência interpessoal e coletiva são os que são punidos pela lei e pela sociedade.
Serão então mais saudáveis os que cometem violência autodirigida?
A vida está difícil. Ter dinheiro suficiente para aguentar um mês é, para muitos, uma tarefa quase impossível. A classe média, que pensava que iria viver bem, está “à rasca”. Estaremos em risco de perder a esperança? A fazer nascer o ódio?
Uma pessoa que se sinta em segurança, com conforto financeiro e realizada no seu trabalho, não vai ser violenta.
Uma das responsabilidades dos governantes é dar esperança às pessoas. Só conseguem dando-lhes condições de vida. Quando isso não acontece, a oposição devia avançar com soluções, em vez de fazer diagnósticos de problemas. Quem tem esses problemas sabe que os tem, o que precisa é de ajuda para os resolver e poder voltar a ter esperança. Os políticos passam horas a debater os problemas, em vez de discutirem as soluções.
Nos conflitos recentes, em Lisboa, onde houve atos de violência marcados por incêndios e vandalismo em bairros da grande Lisboa, não foi o Governo ou os partidos da oposição que trouxeram esperança.
Os atos acalmaram, após uma grande manifestação organizada pelo movimento “Vida Justa”, onde se afirmou que o que aconteceu a Odair não podia voltar a acontecer. A subintendente Aurora avisou que: “Temos de fazer as pazes com os bairros da periferia de Lisboa”. Houve um diagnóstico, com uma solução: voltar à polícia de proximidade, onde os guardas conhecem e são conhecidos pelas pessoas do bairro, e, com uma relação de confiança estabelecida, ajudam na resolução dos problemas do bairro.
Em Espanha e sujos de lama os Reis abraçaram o povo.
“A esperança é o sonho do homem acordado.” — Aristóteles