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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

21/08/2024 08:00

Damon Gough, um génio musical desconhecido para muitos, e sem lugar no éter atual (não por demérito próprio, mas pela subversão do éter atual), brindou-nos no início dos anos 2000 com algumas das melhores e mais profundas músicas dentro género alternativo, num registo Folk e Indie Rock.

De seu nome artístico, Badly Drawn Boy, lança em 2000 o aclamado álbum “The Hour of The Bewilderbeast” arrecadando o prémio “Mercury Prize” (melhor álbum do Reino Unido), com pérolas como: The Shining; Camping Next to Water; Once Around the Block; Disillusion; ou Pissing in the wind. Este estilo urbano-depressivo, com o qual é fácil relacionar-se, pela musicalidade óbvia, mas acima de tudo pelo existencialismo latente, um contínuo lamento, por vezes quase sufocante.

No segundo Álbum de Damon Gough, a música Silent Sigh, suspiro silencioso é bem revelador do assoberbar existencialista. A busca pelo desconhecido, o querer mais de forma cega, a desilusão do Amor e a dificuldade de o encontrar verdadeiramente, como diz monsieur le Duc de la Rochefoucault: “o verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram”, são lamentos de realidade vivida.

Um suspiro encerra realmente esta capacidade de manifestar tanto em tão pouco, que vai desde o lamento à paixão, da doçura à melancolia, desde o presente à existência na memória. Fujamos por instantes aos suspiros boçais, quem nunca suspirou por Amor, por Alívio, por Dor, por Paz.

“A vida é um suspiro” é representativo da fugacidade da vida, e da necessidade de aproveitar o momento, com o peso que isso acarreta, descrito brilhantemente por Albert Camus em o Avesso e o Direito, “Não há Amor à vida sem desespero de viver” este medo irracional da perda está presente na nossa vida por uma concretização de posse, que não é real, pois nada possuímos, excepto o amor que distribuímos, reparem que nem verdadeiramente nos possuímos, somos reféns de tudo o que mentalmente concretizamos, e estamos à mercê de uma realidade que não controlamos (nem devemos tentar fazê-lo).

Um suspiro silencioso é um grito de alma.

Um suspiro profundo num momento de concretização, de reconhecimento é exteriorização do prazer interno acumulado, um prazer de vontade, o sentir-se parte de um todo, o contínuo com o que nos rodeia.

Um suspiro silencioso e franco faz-nos prolongar na imensidão que nos rodeia, leva-nos à Paz existencial.

O suspiro silencioso de dever cumprido, como aquele que no final de dia, após a estafa da repetição dos dias, a casa regressado, e após a azáfama dos jantares, banhos e cama (para as crianças) típicos de uma família comum, sentamo-nos no sofá, suspirámos silenciosamente e o nosso mais profundo ser aflora, e sente (tal como diz Balzac) que tudo faz sentido, e silenciosamente este suspiro é o de agradecimento e reconhecimento pela vida que temos, e nesse breve instante cabem todos os que amamos e eternizamo-nos neles.

O sentido que procuramos na vida poderá residir num suspiro silencioso.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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