Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela. Ou a melhor. Era como se Daniel Sá e Onésimo tivessem puxado um banco e se sentado à conversa no seu pensamento, naquele momento em subia ao melhor cabeço disponível para avistar de longe a terra vulcânica a beijar o mar.
Puxou um banco também e abeirou-se da conversa que seguia amena, na sua própria cabeça, pela ondulação suave da tarde que avançava destemida rumo ao anoitecer. O problema é querer tomar as ilhas todas como suas de direito, atreveu-se a acrescentar. É ver-se apanhado num rochedo cercado de água porque a maré subiu, ser logo esbofeteado por uma mão cheia de melancolia e começar a sentir as dores alheias no corpo e na alma. Assim como a lava que sai do vulcão dos outros e que sufoca, no rastro de destruição da passagem, como se não pudesse ser outra coisa senão nosso. É como se conseguíssemos sentir o calor do magma que se impõe e acrescenta terra sobre a água, disputando sem tréguas o seu lugar.
Não teve resposta. Prosseguiu.
Talvez transportemos a ilha em nós ou a procuremos em todas as ilhas do Mundo, que fazemos nossas, mesmo que sejam tão desigualmente iguais. Irmãs de diferentes pais. Deixa o banco vazio no pensamento e segue de cabeça abaixo até ao calhau de um basalto familiar. Podia ter aprendido a nadar ali, naquele calhau de pedra rolada um pouco maior do que o da praia das Fontes, mas onde o mar tem o mesmo cheiro e a mesma cor, pelo menos naquele dia em que Onésimo e Daniel Sá conversavam. Era sua aquela ilha também, que a envolvia nos seus braços quentes de sol, num misto de fatalidade e consolo, de quem constatava, uma vez mais, que há várias formas de voltar a casa, à ilha-mãe. E isso era a sua maior liberdade e a prisão à qual estaria acorrentada para sempre.