MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Economista

10/08/2024 07:30

Agosto tende a recordar-nos do tempo em que havia “silly season”, com os “assuntos sérios” a boiarem serenamente num limbo noticioso. As celebridades (maiores e menores) desdobravam-se em entrevistas de verão; as revistas cor-de-rosa partilhavam fotografias de primeiros-ministros de bandana na cabeça; o máximo da atividade política traduzia-se em comícios à beira mar com temperaturas amenas – aliás, as “rentrées” políticas só fazem sentido se houver uma pausa da política. Longe vão esses tempos.

Olhemos além-fronteiras. Venezuela, Reino Unido, Gaza, Israel, Líbano e Irão. A instabilidade violenta desdobra-se pelo planeta. Até na opinião política a polarização excessiva ataca todos os meios e ao invés de haver trocas de opiniões entre os campos, só há lutas até ao dizimar do “adversário”. A violência física desses conflitos geopolíticos traduz-se na violência verbal no comentário, onde cada apoiante só socializa e é amigável com a sua “tribo”.

A nível nacional, a realidade noticiosa tem demonstrado que as continuadas dificuldades existenciais do SNS que põem em causa a dignidade dos cidadãos só salientam que o desafio do SNS coloca à governação não se resolve com promessas rápidas de campanha, mas antes com os “pactos de regime” entre os partidos responsáveis. Ao invés, a extrema-direita tem fomentado e acicatado divisões artificiais entre os cidadãos, com iscos de intolerância. Até usam o mês de agosto para lançar presumíveis apoios a putativos candidatos presidenciais.

Na nossa ilha, a “silly season” também não arrancou, na verdade. Desdobram-se noticias com coincidências realmente mirabolantes. Dizem-nos que é pura coincidência que haja um fio condutor entre determinadas exonerações do SESARAM ou da não-renovações de destacamentos e o seu apoio prévio à candidatura à liderança do PSD de Manuel António Correia. Coincidência ou não, a verdade é que noutras latitudes a inclusão de manifestações de diversidade interna partidária seria (até) algo promovido. Idiossincrasias tropicais....

A propósito do caso do lince ilegal na Madeira, muito tem sido citada a frase de Ghandi “A grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser julgados pela forma como os seus animais são tratados”. Diria também que a forma como são tratados os seres humanos é uma variável a ter em conta para medir o desenvolvimento civilizacional...

Regressando à Venezuela (será que alguma vez saímos dela?), defender a liberdade a milhares de quilómetros tem que ter continuação também na ação da proximidade. Aliás, no ano em que celebra os 50 anos do 25 de abril em Portugal, em que a Madeira também disse presente às comemorações de abril e da democracia portuguesa, desejar e almejar a liberdade democrática na Venezuela, onde o verdadeiro resultado do ato eleitoral deve ser respeitado, é dar continuidade a essas comemorações, sem medo e sem represálias internas ou externas.

Sugestão da Semana: é sempre bom revistar a literatura do imaginário político sul-americano. Ainda para mais nestes dias. “A Festa do Chibo” de Mario Vargas Llosa é um romance cativante sobre o decadente círculo de poder ditatorial de Rafael Trujillo na República Dominicana. A ler.

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