"Os nossos interesses são peculiares", poder ser o primeiro argumento contrário.
A plataforma de cursos online Coursera, com associação à Google, a Stanford e ao Imperial College, disponibiliza cursos com nomes tão diferentes quanto "O Budismo e a Psicologia Moderna" e "Escrita Criativa". A edX, plataforma digital criada pela Harvard e pelo MIT, apresenta cursos em áreas tão interessantes como "Energia Solar" ou "Inteligência Artificial". Em Portugal, a plataforma MOOC Técnico conta com cursos tão distintos quanto "Energia, Economia e Cenários Ambientais" e "Valores Próprios".
"Não temos tempo", poderá ser o argumento seguinte.
Muitos destes cursos estão integralmente disponíveis online. O professor estará lá às oito horas da manhã, às duas horas da tarde ou às dez horas da noite, sempre pronto para repetir aquela explicação mais difícil de compreender.
Segue-se um argumento com o qual simpatizo: "precisamos do contacto com colegas e professores."
Muitos cursos online abertos e massivos têm horário para esclarecimento de dúvidas. Melhor do que a alternativa, se essa for "nada", podemos fazê-lo através de videoconferência. Ainda, um dos pontos fortes apontados a estes cursos é o desenvolvimento de trabalho autónomo, em grandes grupos de estudantes, permitindo que uns aprendam com os outros.
A pergunta que agora resulta é a seguinte: tendo estes aspetos positivos, porque é que esse tipo de formação ainda não teve significativo sucesso?
Duas razões podem ajudar a responder. Muitos estudantes não estão preparados para esta alternativa. Já houve tentativas de corresponsabilizar os estudantes no processo de ensino e aprendizagem, como com o Processo de Bolonha no Ensino Superior. Pelo menos nas áreas que conheço melhor, relativamente a Bolonha há muito por cumprir. Provavelmente, para se obter o resultado pretendido é necessário começar muito mais cedo.
A segunda razão prende-se com a credibilidade dos processos de avaliação dos conhecimentos, mas esta dificuldade é mais fácil de resolver do que a anterior.
Esta é uma forma prática de enriquecer um currículo académico ou, mais importante, de adquirir novos conhecimentos, talvez inacessíveis de outra forma.
A adaptação à nova realidade, distinta da que conduziu aos atuais modelos de aprendizagem, é um dos grandes desafios no futuro do ensino. Mas é um desafio que temos de enfrentar. Eu acredito que nos interessa enfrentar. Como professor, não tenho dúvidas: a minha função cumpre-se no dia em que os meus alunos já não precisam de mim.
Obrigado e até sempre
O Professor Sérgio Cruz foi uma daquelas pessoas que ninguém esquece. Deixou-nos, há poucos dias, pelas mãos desta maldita doença que nos assola.
Engenheiro civil, projetista e professor universitário, esteve envolvido em obras na Madeira e um pouco por todo o país, mas também pelo mundo fora, como no Brasil, onde vivia há alguns anos. Deixa também o conhecimento transmitido a muitos alunos que passaram pela sua sala de aula no IST. Acima de tudo, fica o respeito e a admiração de quem com ele se cruzou nesta vida.
Mantinha, ao fim de muitos anos, o sotaque que permanentemente nos lembrava da sua ligação à Madeira, onde viveu boa parte da sua juventude.
Tive o privilégio de trabalhar com ele em vários projetos. Faz parte do grupo de pessoas a quem devo muito. Recordá-lo-ei sempre como o homem pragmático, dinâmico e notavelmente inteligente que sempre foi.
Obrigado e até sempre, Professor Sérgio..