Os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão hoje a consultar-se em Washington, após o disparo de um míssil intercontinental pela Coreia do Norte, que já foi acusada de enviar milhares de soldados para a Rússia.
Os secretários norte-americanos de Estado e da Defesa, Antony Blinken e Lloyd Austin, respetivamente, receberam os homólogos sul-coreanos, Cho Tae-yul e Kim Yong-Hyun, no Departamento de Estado.
As discussões ocorrem em plena tensão com a Coreia do Norte, que hoje disparou um dos seus mais potentes mísseis com o objetivo declarado de reforçar a sua capacidade de dissuasão nuclear, a menos de uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos, na próxima terça-feira, 05 de novembro.
O exército sul-coreano “detetou um míssil balístico lançado da região de Pyongyang em direção ao mar do Leste pelas 07:10 [22:10 de quarta-feira em Lisboa]”, declarou o Estado-Maior Conjunto sul-coreano, utilizando a designação coreana para o mar do Japão.
Esse míssil, segundo o ministro da Defesa japonês, pertence à “categoria dos mísseis balísticos intercontinentais (ICBM)”, que têm um alcance de pelo menos 5.500 quilómetros e são geralmente concebidos para transportar ogivas nucleares.
A China, “enquanto vizinho próximo da Península Coreana”, declarou-se “preocupada com a evolução da situação”, através do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lin Jian, que apelou para uma “resolução política da questão da península”.
Pyongyang confirmou a realização de um teste “fundamental”, no âmbito do seu objetivo de “fortalecer as suas capacidades nucleares”, e supervisionado pelo seu líder, Kim Jong-un.
“O disparo de teste (...) cumpre plenamente o objetivo de informar os nossos adversários (...) da nossa vontade de retaliar”, declarou Kim Jong-un no lançamento, segundo a agência estatal norte-coreana KCNA.
Este novo disparo norte-coreano foi “fortemente” condenado pela Casa Branca, que o classificou como uma “flagrante violação” das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, tal como fez o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Londres e Berlim também se juntaram ao coro de condenações.
“Exortamos a Coreia do Norte a cessar imediatamente a sua série de ações provocatórias e destabilizadoras, que ameaçam a paz e a segurança na Península Coreana e além dela”, declararam Antony Blinken e os homólogos japonês e sul-coreano, num comunicado, após uma conversa telefónica.
Nos termos de sanções impostas pela ONU, Pyongyang está proibida de efetuar quaisquer testes de armamento com tecnologia balística.
O Exército sul-coreano alertou na quarta-feira para o facto de a Coreia do Norte, dotada de armas nucleares, estar a preparar-se para testar um míssil balístico intercontinental, ou mesmo para realizar um ensaio nuclear.
A Coreia do Norte testa geralmente os seus mísseis mais potentes e de maior alcance numa trajetória ascendente, ou seja, para cima e não para fora, para evitar sobrevoar os países vizinhos.
“Foi o tempo de voo mais longo alguma vez registado [num míssil norte-coreano]”, comentou, por seu lado, o ministro da Defesa japonês, Gen Nakatani.
O lançamento norte-coreano “parece ter sido efetuado para desviar as atenções das críticas internacionais ao seu destacamento de tropas” na Rússia, observou o presidente da Universidade de Estudos Norte-Coreanos em Seul, Yang Moo-jin, citado pela agência de notícias francesa, AFP.
Ocorreu algumas horas depois de Washington e Seul terem apelado a Pyongyang para retirarem as suas tropas da Rússia, para onde, segundo as duas capitais, cerca de 10.000 soldados norte-coreanos foram enviados com vista a uma possível ação contra a Ucrânia, mais de dois anos e meio após a invasão russa do país vizinho, ordenada pelo chefe de Estado, Vladimir Putin.
Mas o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou a reação do Ocidente a este destacamento, afirmando, numa entrevista à comunicação social sul-coreana: “Penso que a reação a isto é zero, foi zero”.
A Coreia do Sul, grande exportadora de armamento, indicou estar a explorar a possibilidade de enviar armas diretamente para a Ucrânia, à laia de resposta, algo a que se até agora se opunha, devido a uma política de longa data que a impede de fornecer armas a conflitos ativos.
A Coreia do Norte reforçou recentemente os seus laços militares com Moscovo, tendo Putin realizado em junho uma rara visita a Pyongyang, onde assinou um acordo de defesa mútua com Kim Jong-un.