O primeiro-ministro respondeu hoje à deputada do Chega Rita Matias, dizendo-lhe que recusa “toda a espécie de fundamentalismos” na escola pública, e recomendou contenção política à bancada da extrema-direita, advertindo que “pela boca morre o peixe”.
Luís Montenegro assumiu estas posições em dois momentos diferentes das suas respostas aos deputados na segunda ronda de perguntas do debate sobre o Programa do Governo na Assembleia da República.
Rita Matias levantou-se para condenar uma alegada prevalência “de uma ideologia de género nas escolas”. Observou que a direita tem agora maioria no parlamento e que o PSD não deve continuar a ser um partido “indefinido” nestas matérias.
“Há um combate da esquerda à identidade e à família. À direita não basta vencer as eleições se as instituições de educação e da democracia estiverem dominadas por uma cultura de esquerda”, sustentou Rita Matias.
Na resposta, o primeiro-ministro disse-lhe logo o seguinte: “Vemos a educação e a escola pública como a fonte da verdadeira igualdade de oportunidades, como a expressão maior da liberdade de pensamento, de criação e de formação de qualquer ser humano. Desse ponto de vista rejeitamos toda a espécie de fundamentalismos, toda a espécie para doutrinar o ensino e a aquisição de conhecimento”, declarou, recebendo uma prolongada ovação da bancada social-democrata.
Ainda em resposta a Rita Matias, Luís Montenegro referiu que a palavra chave “é mesmo liberdade”, mas liberdade no sentido de tolerância e de pluralismo.
“Temos de compreender que outros têm opiniões diferentes das nossas e temos de estimular que cada um pense por si”, contrapôs.
Outro momento de interação com o Chega aconteceu depois de Luís Montenegro ter respondido à líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, manifestando abertura do Governo para equacionar matérias como o fundo de emergência para a habitação e a semana de trabalho de quatro dias para uma melhor conciliação com a vida familiar. Apoiou, inclusivamente, a proposta de extensão do passe ferroviário aos comboios inter-regionais e intercidades.
Após a sua resposta, Luís Montenegro ouviu comentários irónicos vindos da bancada do Chega e reagiu: “Ainda me lembro de o Chega se vangloriar por aprovar propostas do Bloco de Esquerda – e aprovaram algumas”.
“No último Orçamento, até aprovaram 56 propostas do PS. Por isso, contenham-se”, disse.
Luís Montenegro reforçou logo a seguir os avisos: “Senhores deputados do Chega, contenham-se porque, como diz o povo, pela boca morre o peixe. E os senhores às vezes morrer dessa maneira”.
Nesta parte do debate, a deputada socialista Maria Begonha acusou o Governo de pretender desregular o setor da habitação, mas o líder do executivo contrapôs que essa área “foi mesmo o maior falhanço de oito anos de governos do PS”.
Em resposta ao deputado do CDS/PP João Almeida, concordou que “há muito por fazer a favor dos agentes das forças de segurança e dos militares.
“Queremos dignificar e valorizar as carreiras das forças de segurança – e isso não tem só a ver com o estatuto remuneratório, mas também com ajudas para a deslocação, para o alojamento ou condições de trabalho. Estamos empenhados, sabendo que o ponto de partida é mau e o esforço requerido enorme. Por isso, teremos de calendarizar com responsabilidade, porque não temos dinheiro para acudir a tantas e tantas necessidades, em tantas áreas da administração pública”, acrescentou.