A Iniciativa Liberal saiu da sua VIII Convenção Nacional dividida quanto à forma de alcançar o objetivo de continuar a crescer, mas sem uma oposição interna com força para ameaçar a liderança de Rui Rocha.
Dos dois objetivos que justificaram a convocação da reunião magna de Santa Maria da Feira - alteração dos estatutos e do programa político -, só o segundo acabou por ter luz verde dos delegados. A proposta de alteração dos estatutos, apoiada pela direção do partido, apresentada pelo Conselho Nacional, acabou chumbada ao não conseguir reunir os dois terços de votos necessários à sua aprovação.
A derrota da direção nacional na questão estatutária esteve longe de se traduzir numa vitória da oposição interna, que tem como voz mais audível a do ex-candidato presidencial Tiago Mayan Gonçalves. Os elementos da oposição passaram a tarde de sábado a criticar o “excessivo poder” da direção, bem como a centralização que a aprovação da proposta estatutária acarretaria, mas a sua proposta nem um terço dos votos alcançou.
Se a proposta da direção foi travada com 58,8% dos votos dos mais de 500 delegados, o documento estatutário apresentado pela oposição interna, tendo Tiago Mayan e o ex-líder e fundador Miguel Ferreira da Silva como principais subscritores, não foi além de 28,6%. A oposição interna dos liberais ficou assim longe de se transformar numa ameaça à liderança de Rui Rocha.
O líder liberal tardou a reagir, mas fê-lo já no segundo dia de trabalhos, deixando implícito que, se houve alguém derrotado na convenção, foi a oposição de Tiago Mayan Gonçalves e de Miguel Ferreira da Silva.
“Não creio que discussões estatutárias tenham qualquer leitura para qualquer dos lados, mas, se tiverem, tem a ver com a derrota de uma moção que foi apresentada e derrotada maioritariamente nesta convenção”, assinalou Rui Rocha, já no domingo, um dia depois do chumbo das duas propostas de alteração dos estatutos.
Na proposta de alteração de estatutos apoiada pela direção da IL estava prevista a criação da Mesa do Conselho Nacional, um novo órgão, e que a Comissão Executiva passasse a ter o poder de aprovar as candidaturas a eleições.
Já a da oposição interna, intitulada ‘Estatutos + Liberais’, e assinada por membros como Tiago Mayan Gonçalves, propunha uma maior descentralização do partido, com mais poderes deliberativos para os núcleos territoriais e menos poderes para a Comissão Executiva.
Com o lema ‘Sempre a Crescer’, a convenção decorreu num clima pouco ou nada entusiástico, que levou Rui Rocha a afastar outra tentativa de mexer no estatutos durante o seu consulado à frente do partido, afirmando não crer que “haja energia suficiente para os liberais, e também para os jornalistas, acompanharem muitas mais reuniões desta natureza”.
Entre os mais aplaudidos voltou a estar o ex-líder João Cotrim Figueiredo, agora eleito eurodeputado com um resultado que quase duplicou percentualmente o das legislativas (9,1% contra 4,9%), ao defender que o partido só continuará a ganhar se conseguir “evoluir com os tempos” e apelar à aprovação da alteração estatutária preconizada pela direção.
No segundo dia, Cotrim Figueiredo foi mais longe e defendeu que o partido precisa de “mudar a forma de comunicar e fazer política”, argumentando que a convenção não serviu para ganhar um voto e, depois de citar o antigo líder bolchevique soviético Lenine, - “o hiperracionalismo é a doença infantil do liberalismo” -, alertou que “o hiperracionalismo é muito limitador da ação política”.
Uma ideia transversal às principais figuras, como o ex-líder parlamentar Rodrigo Saraiva ou o próprio Rui Rocha, foi a de que a IL é o único partido que tem vindo sempre a crescer. Saraiva foi mesmo mais longe, assinalando que a estagnação está na economia, não no partido, centrando-se exclusivamente nos valores absolutos de votos e omitindo a questão percentual ou de representação na Assembleia da República, onde a IL alvançou os mesmos oito deputados nas duas últimas legislativas com 4,91% em 2022 e mais três décimas em 2024.
Com um programa político renovado, aprovado com 97,9% dos votos dos mais de 500 delegados, Rui Rocha considerou que a Iniciativa Liberal entra agora num “novo ciclo” que previu continuar a ser de crescimento eleitoral.
O programa está dividido em seis eixos: direitos, liberdades e garantias; organização política; soberania; economia; sociedade e estado social. Relativamente ao inicial são inseridos novas ideias quanto ao Poder local, sustentabilidade migrações e habitação.
No final, Rui Rocha fez uma intervenção de cerca de 20 minutos na qual criticou a justiça, por permitir que haja cidadãos sob escuta durante quatro anos, e demarcou-se da política da AD em áreas como a juventude, impostos, saúde e habitação.