Quem nunca ouviu a história da galinha dos ovos de ouro? Bem, se não conhece, é melhor refletir sobre a sua infância... Em resumo, um casal decidiu matar uma galinha que punha todos os dias um ovo de ouro, porque queria tirar rapidamente todo o ouro que estava no seu interior. Resultado: a galinha morreu e não encontraram mais ovos nenhuns.
A fábula estabelece um paralelo com episódios reais, que podem descrever situações que perdem o encanto a partir do momento em que se alteram modelos ganhadores com o pretexto de procurar lucros maiores e mais rápidos.
Se é verdade que a ambição pode e deve ser interpretada como uma virtude, não é despiciente lembrar que tem de ser encontrada a medida certa para evitar desvirtuar a tal essência que delimita o bem ou o mal da oferta.
Vejamos o caso do Porto Santo, onde, felizmente, a sazonalidade está cada vez mais esbatida. O areal dourado assemelha-se a um oásis que retempera energias de milhares de turistas. O autarca Nuno Batista anuncia taxas de ocupação hoteleira recordistas, sinal de que a ilha, tal como está, convence o complicado mercado concorrencial onde se encontra.
No Porto Santo, a frente-mar pode ser comparada à galinha dos ovos de ouro. Ninguém tem dúvidas disso. E mais do que abri-la à construção, importaria também pensar em formas de protegê-la de um desenvolvimento que arrisca redefinir a sua matriz de destino calmo e familiar.
O plano de urbanização que está em discussão até ao final do mês vem desbloquear restrições com mais de duas décadas. Ninguém está contra o progresso, atenção. Mas importa perceber o que muda no presente, de forma a não modificar um modelo que tantos e bons dividendos tem trazido para a ilha.
O futuro da ilha justifica a participação de todos. No Porto Santo, aliás, são diversos os empreendimentos por rentabilizar mesmo à beira-mar. Outros há que derramam poucos proveitos para a denominada economia local. Basta conversar com os comerciantes para perceber que nem sempre as enchentes traduzem mais-valias financeiras para a generalidade dos empresários.
Portanto, a valorização do património e a regulação das construções à beira-mar merecem um planeamento cuidado. Importa zelar pela identidade da ilha e não ceder à ganância de construir a mais e ficar com menos. Aliás, depois de tanto tempo para discutir o plano de urbanização, o melhor será avançar com calma e evitar erros que condicionem o futuro.
Futuro que contempla, em definitivo, a introdução das taxas turísticas. Após um período de rejeição, o imposto é já uma realidade regional incontornável, como acontece em tantos outros destinos turísticos. Se lá fora pagamos e não reclamamos, quem nos visita também pode encarar a taxa – módica, diga-se – como um sinal dos tempos. Mas como quem paga tem direito a reclamar, convém não esquecer a obrigatória manutenção dos espaços.