Agora já não há desculpa para a interrupção que a Madeira viveu durante largos meses.
Já não colhe a velha ideia de que em vésperas de eleições era melhor adiar tudo para o governo seguinte. Isso durou meses, mas acabou.
Já não é possível justificar a interrupção com a retórica política que se apoderou da Madeira desde o início do ano.
Já não faz sentido falar em governo de gestão, como tanto se falou desde janeiro até ao início de julho.
Não é mais possível adiar decisões por falta de aprovação do Programa de Governo.
Não vale falar em gestão por duodécimos.
Agora não.
Agora, é hora de recuperar o tempo perdido durante meses e meses e mais meses.
Nesta nova fase, o que se pede é capacidade de fazer andar o que esteve amarrado. Com prudência, com bom-senso, mas com decisão firme capaz de fazer arrancar, de novo, a máquina adormecida.
Com Programa de Governo e Orçamento aprovados, esgotam-se as moratórias para o tanto que ficou por fazer. E não foram apenas obras físicas, nem projetos vistosos. Foram medidas sociais que melhoram a vida das pessoas. Foram políticas económicas que ajudam as empresas e instituições. Foram mudanças financeiras que fazem a diferença para instituições, empresas e cidadãos.
Foi um tempo que se perdeu.
Essa perda não foi mais sentida essencialmente por uma razão: o turismo. O crescimento da procura levou ao crescimento da oferta e dos rendimentos. Por muito que se critique o estacionamento irregular e a condução aselha dos turistas nas nossas curvas, a verdade é que essa presença permitiu disfarçar perdas noutros setores de atividade.
Mas esta interrupção da governação plena foi ainda mais grave por surgir logo depois dos primeiros indicadores de retoma após a grande paragem anterior, a que foi provocada pela pandemia e nos obrigou, a todos, a reinventar o modo de viver em sociedade.
Parece que foi há muito tempo, mas não foi.
Agora, que acabou o segundo intervalo em menos de quatro anos, não há tempo para emperrar a máquina da governação. E isso é válido para quem governa – sobretudo para quem governa – mas também para quem faz oposição responsável.
Depois de tanto tempo com uma crise política como os madeirenses nunca haviam experimentado, este recomeço traz novos desafios. A começar pelos que se colocam ao nível da agenda política.
Apesar das soluções arrancadas a ferros ao longo de quase dois meses, o Programa de Governo e o Orçamento não fazem milagres. O cenário político, agora menos crispado, é ainda o resultado do que saiu das eleições de maio. O Governo continua a ser de maioria simples, embora tenha conseguido algumas pontes de entendimento.
Este contexto significa que continua a ser preciso capacidade de negociação. Com um detalhe importante: o escrutínio é hoje maior. A pacata agenda política dos últimos quase 50 anos é coisa do passado. Acabou.
O Poder sabe disso. A Oposição sabe disso. Os eleitores sabem disso.
Com tanta informação disponível neste triângulo, a margem de erro é menor. O espaço para a sobranceria é infinitamente mais apertado. Assim como o é o caminho da crítica irresponsável que tudo acusava e nada decidia. Esse tempo acabou. Para todos.