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Artigo de Opinião

26/07/2024 08:00

Hillary Clinton deixou um apelo a Kamala Harris, para que não desista do caminho, mas que esteja preparada para ataques sexistas, desinformação e os preconceitos de que será alvo. Clinton que já esteve na corrida à Presidência dos Estados Unidos por duas vezes refere ainda o quão difícil é para as mulheres fortes lutarem contra o sexismo e a duplicidade de critérios. A realidade não varia assim tanto de país para país. Basta ver os ataques recentemente feitos a Alexandra Leitão por ter afirmado que reúne as condições para ser primeira-ministra do País. Ou na Finlândia quando a primeira-ministra Sanna Marin, teve que pedir desculpas publicamente pela circulação de fotos onde aparecia a dançar e a cantar animadamente. Ou quando André Ventura decidiu criticar o batom vermelho de Marisa Matias na corrida à Presidência da República.

Na Madeira, os comentários não são feitos cara a cara, mas são vários os artigos de opinião nos meios de comunicação social, nas redes sociais, nas caixas de comentários e no Correio da Madeira. Alimenta-se ódio, especulação, desinformação na tentativa constante de humilhar. Verdade que neste meio não são só as mulheres as afetadas, contudo, é de ler e reler o que é dito na maior descontração sobre mulheres que assumem cargos de liderança.

É inaceitável que perpetuemos esses discursos de ódio e que sejamos cúmplices das críticas pessoais. Que sejamos apoiantes da desistência de mulheres destes cargos. Que estejamos tantas vezes a caminhar no sentido oposto ao que apregoamos.

Quantas de nós, mulheres na política, já fomos alertadas por outras mulheres para estas situações? Quantas de nós mulheres na política nos calamos perante os ataques pessoais a outras mulheres? E quantas de nós mulheres na política somos cúmplices e agressoras de ataques a outras mulheres? Quantas de nós temos a coragem de demonstrar apoio e sororidade mais além dos nossos próprios interesses partidários?

Lutamos tanto para que haja mais lugares para mulheres na Assembleia e em cargos de poder, pelo menos algumas de nós o fazem, para estarem tantas outras a tentar deitar abaixo as mulheres que lá chegaram e que ocupam um lugar que lhes é legitimo.

Ao invés de se atacar os “Cristianos Ronaldos da política” e em se fazer campanha política contra outras mulheres na liderança, deveríamos estar a enaltecer e a lutar por mais Kamalas Harris, Claúdia Sheinbaum, Annalenas Baerbock,Terrys Reintke, Marías Corina Machado, Marias de Lourdes Pintassilgo e tantas outras que têm desbravado caminhos, ainda que muitas vezes distintos em termos de visão e ideologia política.

Bem-hajam às mulheres e também homens deste mundo, que têm a coragem de se chegar à frente, de assumir publicamente apoio a uma mulher e de denunciar a discriminação de que somos alvo única e simplesmente pelo sexo com que nascemos.

E com isto, não podia deixar de agradecer a todas as mulheres incríveis que têm feito parte do meu percurso e me apoiado sempre, incluindo a minha mãe, dentro e fora da política. À Lara, às Anas, à Filipa, à Abida, à Raquel, à Nicole, à Catarina, às Márcias, à Sandra, às Carinas, às Sofias, à Mariana, à Cristina, à Marília e à Paula. A todas as que manifestam solidariedade e que nunca deixaram que me sentisse só.

E em muito especial pela sororidade que sempre demonstrou e pela força e resiliência que tem em sendo mulher, deputada única e líder de um partido, à Inês.

Que nos lembremos sempre que ao lado de uma grande mulher está outra e que ela não é o nosso inimigo.

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