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Artigo de Opinião

Consultor

25/09/2024 08:00

Já dizia o ditado popular que doença bem tratada, poucas vezes é demorada. Ainda assim, um estudo da Softworks (2023) concluiu que 79% dos inquiridos sente obrigação de trabalhar mesmo estando doente. Outro estudo do International Journal of Public Health (2022) refere que 30% dos participantes não usufrui do tempo de baixa, apesar de se sentir mal. Isto significa que muitas pessoas se sentem pressionadas a trabalhar mesmo estando doentes. A este fenómeno deu-se o nome de Sick Day Guilt (Culpa do Dia de Baixa).

O conceito refere-se à pressão para trabalhar com sintomas de doença, quando se deveria estar no médico ou em casa a recuperar. Esta pressão é acompanhada de remorso, vergonha e condenação por não se conseguir executar as tarefas diárias. Tal é agravado pela cultura de excesso de trabalho vigente em algumas organizações, o que leva a uma recuperação mais lenta, com todas as consequências que daí advêm.

Assumamos agora que usufrui do dia de baixa e está confortavelmente em casa a recuperar. Pode manter o PC desligada, correto? Algumas chefias podem pensar: “Então qual é o problema?” O problema é que não está realmente a descansar. Estar doente implica repousar, ir ao médico e realizar tarefas que não podem ser feitas enquanto se está a tentar trabalhar. Basicamente, não se pode ser um bom doente a tentar recuperar e um bom colaborador ao mesmo tempo. O referido estudo da Softworks concluiu que 83% das pessoas sentiam que era mais difícil tomar uma decisão nos dias em que estavam doentes. Outro estudo publicado pelo International Journal of Academic Rersearch in Business and Social Sciences (2022) demonstrou que as pessoas que trabalham doentes têm, frequentemente, um bem-estar psicológico reduzido, menor satisfação no trabalho e desempenho inferior. Então, porque razão somos pressionados a ceder à culpa nos dias em que temos direito a baixa? A resposta reside no medo gerado pela ameaça de despedimento, bem como na indefinição das fronteiras entre a vida pessoal e profissional.

Afigura-se de capital importância que esta tendência não seja normalizada. Um estudo publicado no jornal Frontiers in Psychology (2022) concluiu ser necessária uma maior liderança para ajudar a desenvolver políticas e regulamentos relacionados com colaboradores que trabalham enquanto estão doentes. Eis alguns procedimentos que as organizações podem adotar para prevenir o nocivo Sick Day Guilt: 1) definir claramente os objetivos de cada função; 2) dar feedback construtivo e reconhecer os resultados alcançados, de forma regular; 3) incentivar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, respeitando o tempo pessoal de cada um; 4) investir no desenvolvimento dos colaboradores; 5) oferecer opções de trabalho flexíveis, sempre que possível; 6) implementar programas para apoiar a saúde física e mental; 7) promover uma comunicação bilateral aberta e honesta; 8) reconhecer e recompensar o desempenho e as contribuições excecionais; 9) garantir pacotes remuneratórios justos e competitivos; 10) garantir um ambiente de trabalho saudável.

De forma geral, é necessária ainda uma mudança de atitude da sociedade em relação ao direito a dias de baixa por doença e tudo começa com o exemplo dado pelos líderes. Como referiu o político Chris Christie em tons de ironia: “Se estiveres doente, tira o teu dia de baixa. Se não tirares o dia de baixa, sabes qual é a tua recompensa? Não estiveste doente – essa foi a recompensa.”

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