Sobre a Felicidade.
Conheci o Gabriel Leite Mota, especialista em Economia da Felicidade, em finais de 2018. Convidei-o a vir ao Funchal, no início de 2019. Fomos oradores num ciclo de conferências, cuja temática versava a Inclusão Social. A mim, coube-me abordar, relacionar e lançar a questão sobre a fatalidade da pobreza. Ao meu colega de painel, a relação entre a Economia e a Felicidade. O que determina a felicidade, com base nas dimensões económicas. Lembro-me, essencialmente da sua defesa acérrima de que o crescimento económico não podia ser um mero fim, mas antes, um meio para a Felicidade. Pela primeira vez, tínhamos um auditório cheio, com público de várias faixas etárias, a ouvir um economista a lutar por uma Economia em nome da Felicidade. Em letra maiúscula. A fazer a defesa da necessidade de se medir a Felicidade. Do que realmente interessa. Muito para além do PIB (Produto Interno Bruto).
No último sábado, no programa Dúvidas Públicas, da Rádio Renascença, fomos presenteados com a sua presença, em entrevista. Ouvi o programa do princípio ao fim. Entre vários outros fatores, Gabriel Leite Mota, o primeiro doutorado do país em Economia da Felicidade, explicou o que falta em Portugal para subir o índice de bem-estar entre a população. Importa, para o Estado e, em primeiro lugar, a cada um de nós, perceber, realmente, a relação entre o crescimento económico e o bem-estar e a felicidade. Pelas suas próprias palavras, que transcrevo, «a ciência da Felicidade está em diversas disciplinas científicas, da neurologia, à medicina, à psicologia, à economia, entre outras, está a tentar perceber, através de diferentes metodologias, o que provoca sensações de bem-estar nos seres humanos». E não é algo recente. A ciência decidiu estudar, nos últimos 40 anos, a Felicidade. Não confundamos a Economia da Felicidade com a filosofia da autoajuda. Não se trata da indústria da felicidade recém-criada, nem de gurus de autoajuda, nem de coaching, como refere, «numa reinterpretação mais pop».
Muito embora o bem-estar dos portugueses tenha convergido com a União Europeia, o facto é que ainda continua a ficar abaixo da média. Perante tal, nunca será demais lançarmos a questão e percebermos o que motiva esta menor Felicidade dos portugueses. Segundo o índice calculado pelo Banco de Portugal, os portugueses consomem menos e trabalham mais horas, o que acaba por prejudicar o bem-estar face aos outros países europeus. A ciência comparou os dados que tinha sobre o PIB, nos diferentes países, com o crescimento económico ou a perceção de bem-estar. O resultado destas análises permitiu que Gabriel Leite Mota chegasse a uma conclusão e afirmar, com segurança, que «a relação entre economia e felicidade é positiva, mas não linear». Dito de outra forma, cai por terra a ideia generalizada de que «quanto mais crescemos economicamente, mais felizes estão as pessoas».
Tudo depende do ponto de partida. Por exemplo, um país pobre que inicie o seu processo de crescimento económico, vai ter mais facilidade em transformar este crescimento em bem-estar. Porém, «a partir de certos patamares de riqueza e conforto material, já começa a ser mais difícil transformar este adicional de riqueza em bem-estar ou felicidade adicional», defende. Em termos estatísticos, o nosso patamar de PIB apontar-nos-ia para um nível de felicidade maior, daquela que produzimos. Sabemos que há políticas públicas e decisões concretas que vão afetar o resultado final. O foco não pode ser apenas o de se pôr o país a crescer. No rescaldo das Eleições Europeias, não posso deixar de fazer referência a um facto científico: a social-democracia é o sistema político mais conducente à Felicidade. Nem ditaduras, nem sistemas liberais de Estado pequeno. Temos que continuar a progredir. Todos somos necessários para tornar Portugal mais feliz. Façamos a nossa parte.