Muitos ainda se lembram do cordão humano em cima do aterro, na frente-mar do Funchal, numa onda de protesto contra o aproveitamento do entulho trazido pelo temporal do 20 de fevereiro. Apesar disso, nasceu a Praça do Povo, jardins e equipamentos públicos envolventes. O tempo passou, a polémica foi ultrapassada e os responsáveis pelo espaço, de ambos os partidos, mesmo anteriormente pouco entusiastas daquele projeto, acabaram por aceitá-lo e tratá-lo convenientemente. Hoje ninguém imagina o Funchal sem a beleza daquele arranjo público. Um cartaz para locais e visitantes.
Em Machico, aconteceu algo semelhante, mas a história final é outra. Também na frente-mar desta cidade houve polémica. Os viciados na má-língua para aproveitamento político fizeram ouvir as suas vozes. Diziam que se estava a destruir a paisagem do velho calhau, que o mar ia levar a areia da praia, que tudo aquilo era destruir a primorosa baía ancestral e por aí além. Mas, como no Funchal, e apesar das críticas, a obra nasceu e quase todos aplaudiram.
No entanto, o tempo ditou outra sorte para a promenade marítima de Machico. Cada ano que passa ela fica mais empobrecida, mais triste, menos cuidada. É verdade que os materiais aplicados e o mobiliário urbano ali colocado não foram da melhor qualidade. Foi uma obra extensa, implicou a construção duma ponte suspensa sobre a ribeira e o orçamento não deu para mais. A composição final não foi a desejável. Pior foi que, com o tempo, tudo se foi deteriorando ou remediando da pior maneira.
Primeiro foi o espelho e repuxos de água, em frente ao Fórum. Como avariava com frequência a solução foi aterrar tudo e tapar com cimento. No local, sem qualquer propósito, colocou-se uma tabela com cesto de basquete. De tempos a tempos cai uma palmeira e, de novo, a velha solução. Aterra-se a base, tapa-se com cimento e pronto, está resolvido. Nem se planta outra palmeira ou outra árvore qualquer. Está tapado, está resolvido. E assim, em toda a extensão, lá se veem cerca de uma dúzia de quadrados de cimento de outra cor, onde dantes havia uma palmeira. Os bancos retirados não são substituídos e os candeeiros sofreram, e bem, uma diminuição, sem ganhar a qualidade mínima que o espaço exige. Duas palavras para resumir. Degradação e abandono.
Como se não bastasse esta incúria, o vasto espaço foi entregue aos vendedores ambulantes de quiosques e barraquinhas. Não há critério, não há caderno de encargos, não há concurso público de atribuição dos espaços, nem há sequer qualquer regulamento para a gestão e salvaguarda do interesse municipal. A coisa funciona à la carte. O interessado fala com a Câmara e monta a sua barraca. Ponto.
Para cúmulo, continua a vergonhosa paragem das obras de reformulação da estação elevatória dos esgotos da cidade. A ARM cercou todo o espaço do jardim existente junto à praia de areia e já lá vão uns três anos. A obra está suspensa sem qualquer explicação pública. Nem acabam os trabalhos nem restituem o precioso espaço aos munícipes e visitantes. Uma vergonha que a Câmara consente sem refilar.
A única coisa que parece merecer a atenção dos autarcas locais é a realização de provas desportivas por toda aquela zona. Em terra e no mar. É verdade que o lugar oferece condições privilegiadas para a prática do desporto. É verdade que o desporto a nível local ajuda a granjear muitas simpatias políticas. Os apoios não são dados de amor em graça. Mas caramba, aquele encantador espaço de lazer está a precisar duma gestão mais cuidada.