Será do calor que a gente, quando chega o verão, fica numa letargia dolente, com apetência pelo que não nos traga ocupações ou preocupações de maior?
Entregamo-nos às circunstâncias que nos levam por aqui e por além, às sugestões que nos acenam, às realizações de que tomamos nota casual, aos programas que se nos deparam inesperadamente...O cheiro a férias e lazer é contagioso: as manhãs abrandam no rigor, as noites entram pelas madrugadas, as refeições perdem horas e apresentam novas parcerias, hábitos há que se abandalham, arrumam-se as dietas, procuram-se novos destinos e companhias, as leituras são ligeiras, a pressa sai dos dias, os compromissos alongam-se...Voando sem rumo, passemos por apelos que nos tocam: OS ARRAIAIS superabundam em qualquer recanto, saudando o Padroeiro, a Senhora, o Santíssimo, a Santa, o Santinho. Ocasião para Missas solenes, coros preparados, sermões emotivos ou dramáticos...Passará procissão, passeando andores faustamente ornamentados, as Confrarias solenes, de capas e capotes, de várias cores e formatos, alguns bordões e colares. As bandas filarmónicas, tocando a compasso, vão marcando o ritmo do andamento. Fazem pausa para as vozes, enquanto os lenços se empapam do suor que lhes lava a face ou encharca os sovacos. Os anjinhos esvoaçam na sua candura e naturalidade. Os tapetes são uma pintura a muitas mãos, efémera, mas desenhada com imensa criatividade e devoção, um grito de Esperança, Fé e gratidão. Hoje, arraial que não tenha animação para além duma banda filarmónica passa para segunda categoria. Chegam catadupas de artistas na moda, os mesmos quase sempre, já de fãs motivados e rendidos antes do palco. As girândolas estão em modo de contenção. Se um foguete atinge o solo mal apagado, é certo que, com a temperatura que faz, há fogueira, breve incêndio a trepar encostas, levando o pânico às habitações semeadas por montes e vales.
CONCERTOS E FESTIVAIS
São os gastronómicos, que arrastam multidões, sedentas duma novidade, duma tradição típica, dum petisco e duns copos, a preços ora escaldantes como o tempo, ponto de encontro para famílias e amigos; Fazendo ligação a concerto, é sucesso garantido e rendimento assegurado. São os de música variada, que reúnem bandas e cantores em moda, e logo as multidões fazem fila para um momento em comunhão de quem sabe as letras de cor. A ocasião é de alta para bandas e artistas, requisitados como nunca, pagos como nunca, aplaudidos como nunca, porque as redes sociais e outros meios se encarregam de os publicitar, não deixando margem para uma avaliação atenta e criteriosa da real valia. Uns há que dão atenção especial à prata da casa, seguindo uma linha que, quando de passagem numa autarquia, fiz questão de motivar: O QUE É NOSSO É BOM! Realço um Festival que, lá vão quase 40, com aminha equipa directiva lancei : O Festival de Arte Camachense, organizado pela Casa do Povo. O «Art Camacha» é uma dessas realizações que se mantém fiel ao propósito de realçar os valores e tradições duma terra. Sim, porque o que é nosso é bom! Acrescentou-lhe criatividade, deu-lhe projecção, ganhou realce, valorizando a Paixão pela Camacha, uma Vila que, mais ou menos abandonada, mantém uma vontade enorme de afirmação e crescimento. Assim lho permitam. Deixo uma sugestão: Governo, Autarquias, Casa do Povo, reergam o Museu Etnográfico Maria Augusta Correia Nóbrega. Faz tanta falta!