Não posso deixar de recordar tudo o que me ensina, não só pelo dia que é, mas também pelo que assisti, incrédulo, ao longo do fim-de-semana no Congresso do PS. Até hoje, evitei sempre pronunciar-me publicamente sobre a vida interna do PS. Mesmo quando fui candidato na mais acesa disputa interna dos últimos anos, que ganhei, evitei responder a determinadas afirmações. Fi-lo por respeito ao meu Partido e, acima de tudo, a todos os que ajudam a construí-lo. Porém, abro hoje uma forçosa exceção.
Comecei o meu trajeto político em 1993, como independente. Depois, recebi vários convites para tornar-me militante, inclusive de António Guterres, e quando o fiz, considerei que era o momento de comprometer-me inequivocamente com o projeto do PS: não apenas para o Porto Moniz, mas para a Região. Foi com esse espírito que fui deputado à Assembleia Regional e, depois de vencer, pela segunda vez, as eleições autárquicas, em 2017, avancei para a liderança do PS, convicto de que, como parte de um projeto coletivo, ajudaria a mudar a Madeira.
Durante este trajeto, tive a Humildade de aprender várias lições. A primeira é que não se ganham eleições sem o apoio popular das nossas gentes e que não vale a pena pensarmos que fechados numa sala seremos capazes de iludir quem está fora.
A segunda foi que para o PS ganhar, precisa de contar com todos. Com o trabalho de formiguinha que, durante anos, fartei-me de repetir: em reuniões, em congressos, em convívios, antes e depois de liderar o PS. Mas quem são as formiguinhas? São os simpatizantes e militantes, desde os que cumprem funções na Rua da Alfândega aos que defendem o PS nas Achadas da Cruz. São todos os militantes: os de base e os dirigentes; os anónimos e os destacados. Aprendi que todos são imprescindíveis. Mas se ainda duvidasse, em 2019 aprendi que, mesmo incluindo o máximo possível, pode ser insuficiente. E incluímos muitos: recuperámos o Rui Caetano, há muito afastado; trouxemos quatro Presidentes do PS para a linha da frente - o João Carlos, o Jacinto, o Victor e o Carlos; incluímos os Jovens e as Mulheres Socialistas; e abrimo-nos à sociedade civil, num misto que nos permitiu ter o melhor resultado de sempre.
A terceira lição foi que não podemos ficar calados perante as injustiças. Tudo aquilo a que assisti desde o penúltimo Congresso, em 2020, tem merecido o meu silêncio, mas não o meu alheamento. Hoje, depois de mentirem deliberadamente sobre as razões da minha ausência, não posso continuar calado. Sobre todas as mentiras que fui ouvindo, resta-me a Humildade que recebi do meu pai para, em vez de contrapor com afirmações, devolver com perguntas.
Como é possível dizer-se que as pessoas se afastaram, quando nunca foram incluídas e foram ativamente excluídas? Excluídas das listas candidatas às autárquicas e à República? Excluídas das campanhas externas e internas? Excluídas mesmo quando se mostraram disponíveis para serem militantes, como o Miguel Gouveia? Excluídas dos órgãos internos a que pertenciam? Como é que se invocam inerências para uns, quando outros são eleitos, apesar delas? Como é possível não fazer-se o mínimo para incluir? Telefonar e falar, em vez de dizer que se fez o que não se fez? Como é possível julgar que se enganam todos com tanta desfaçatez? Nunca pensei ver chegar o dia em que eu, que entreguei a Paulo Cafôfo a liderança, tivesse de dar-lhe, com Humildade, um conselho publicamente: que se retire. Que compreenda o que lhe aconteceu até demitir-se. Que se aconselhe melhor. Que volte a rodear-se das pessoas certas, em vez de entregar-se nas mãos da pessoa errada. Que dê verdadeiramente lugar a outro, em vez de ocupar outro lugar. Que aprenda com as derrotas, como todos fizemos. Que compreenda que há uma geração que não vale a pena Miguel Iglésias tentar destruir, porque voltará. Que tenha a Humildade de aprender uma coisa comigo: deixar o caminho livre a quem se segue. De não interferir. De não levar Sérgio Gonçalves a cometer os mesmos erros e a começar mal com as suas escolhas.
Hoje, com os seus 86 anos, continuo a ter a alegria de conviver com o meu querido Pai, que apesar de fisicamente mais debilitado, continua a dar-me lições todos os dias: de alegria de viver com orgulho naquilo que somos. De resistência. Neste PS, bem podem alguns tentar atingir aquilo que fui e sou, o que fiz e faço. Sei bem que os militantes do PS e os madeirenses conhecem-me há muitos anos e sabem que continuarei a fazer o meu melhor, a cumprir o meu papel de defesa do Porto Moniz e a lutar pelo sonho de mudar a Madeira. Como o meu pai: com Humildade e com Resistência.