Apenas 1% dos incêndios são por causas naturais. Na sua grande maioria são de origem, e por ação, humana e não raras vezes de modo intencional. Aliada a este facto está a falta de cultura ambiental pela qual, além de cada indivíduo, é responsável a tutela política por várias vias: a da informação; a da educação; a da legislação e da prevenção - e todas estas inseridas numa estratégia bem definida para a sua concretização no terreno. Os cargos públicos e políticos não se podem reger pela denominada “acheologia” e menos ainda pela pugna político-partidária, para mais em momentos de grande tensão social, económica e ambiental como o são os incêndios. Todas as decisões, ponderadas, sim, inclusive ao nível da decisão política, devem assentar no conhecimento técnico dos especialistas e dos executantes do teatro operacional dos fogos. A literacia ambiental é a primeira grande arma de prevenção e combate aos incêndios e esta, a par da gestão ambiental, e em particular no que às florestas diz respeito, deve ser um objectivo central da política ambiental verdadeiramente comprometida com o desenvolvimento de mecanismos múltiplos, e eficazes, de proteção contra os incêndios. Esta medida, na verdade, respeita-nos a todos e há mesmo pequenas ações quotidianas que por si fazem a diferença, começando por evitar o descalabro das queimadas e da pirotecnia no verão, passando pela limpeza de terrenos, mantendo uma vigilância e cidadania ativa neste combate. Já na esfera política, este empreendimento passa pelo dever de intervir na promoção da gestão florestal adotando medidas e modelos de intervenção de referência, executados com sucesso noutros países, desde uma maior canalização de verbas para o reforço de recursos humanos e materiais para este combate; ao aumento de áreas agrícolas e silvícolas; à criação ou reforço de gabinetes técnicos florestais; à recuperação e reabilitação dos ecossistemas e das comunidades; à criação de faixas de tampão entre o parque florestal e os aglomerados populacionais para, no mínimo, suster a propagação dos incêndios instalados, entre outras medidas, tão amplamente estudadas, divulgadas e aplicadas globalmente.
A destruição florestal no nosso país (e na nossa região) reverte-se numa preocupação maior, para mais tendo em conta a extensão da área afectada, de vários hectares de floresta capazes de retirar da atmosfera toneladas e toneladas de dióxido de carbono- sem este “filtro de limpeza” do ar que respiramos, as consequências ambientais à escala planetária serão devastadoras- sim, o aquecimento global, negado e renegado por “acheólogos negacionistas”, muitos dos quais com responsabilidades políticas, é a maior das consequências.
Mas por mais que os quadros de responsabilidade institucional estejam definidos, por mais documentos e planos de defesa das florestas e contra os incêndios que se tenham criado, a verdade é que muitos dos responsáveis políticos (e até técnicos) não têm estado à altura destes embates, revelando-se manifestamente incapazes de criar e executar uma estrutura orgânica de combate capaz e integradora de decisões e recursos, mas também de atitudes. E estas últimas falharam claramente em toda linha de atuação política nos últimos incêndios na região – nem na maior deterioração política se pode cavalgar sobre a tragédia para tirar dividendos ou lançar farpas políticas. Faltou atitude, sim, o mínimo de atitude que se reclama aos grandes (e bons) estadistas: a serenização das populações num quadro temeroso e apavorante que é o de uma (eminência de) catástrofe.