À luz dos recentes acontecimentos, o CDS/Madeira que se cuide. Miguel Albuquerque ainda não rompeu com o atual casamento, mas já está à procura de um novo companheiro de governação. Quiçá antecipando a queda política do Partido Popular na Região. O seguro morreu de velho, não é verdade?!
Imagino o sorriso amarelo de José Manuel Rodrigues e Rui Barreto. Engolir um sapo deste tamanho é obra, embora tenham tido um bom treino nestes últimos tempos. Têm engolido todas as bandeiras que norteavam o partido. Ainda alguém se lembra do combate às listas de espera e à falta de transparência na saúde, à reestruturação do setor portuário ou da oposição à construção da estrada das Ginjas? Quem tinha razão era o ilustre Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". Tudo se esvaneceu à custa das sinecuras proporcionadas pela cadeira do poder.
Desde que José Manuel Rodrigues conseguiu negociar para si a Presidência da Assembleia Legislativa da Madeira que ninguém ouve o CDS/Madeira "barafustar". Até Paulo Portas deu dores de cabeça a Passos Coelho, nos tempos da famigerada austeridade da coligação PSD/CDS. Foram um parceiro incómodo. Já Barreto não bate o pé a nada, o CDS perdeu a sua identidade e diluiu-se no mar laranja do PSD. Isso poderá custar-lhes a reeleição. Miguel Albuquerque já percebeu, não foi por acaso que abriu as portas da Quinta Vigia a Ventura.
O líder do Chega assumiu-se como o candidato antissistema e a coisa pegou, atraindo o descontentamento social para um projeto de poder da ultradireita que sempre se escondeu dentro do CDS e do PSD.
Agora os eleitores do Chega, sobretudo os votos de protesto, devem-se perguntar como é que um partido antissistema ensaia entendimentos com um partido do bloco central como o PSD. Um partido que se assume de rutura com as políticas do passado, mas que quer perpetuar quem está no poder? Incompatível, no mínimo. Pelos vistos não têm um problema com o regime, apenas com a esquerda.
Com as pretensões do Chega no panorama madeirense espero que sejamos poupados à sobranceria que foram alvo os açorianos. Acusados de viverem à custa do Rendimento Social de Inserção, numa vergonhosa campanha de humilhação aos mais pobres, para tirar proveitos políticos. Uma afronta que revela a profunda desumanidade e desconhecimento da realidade social que decorre da condição geográfica do arquipélago. Ainda hoje me pergunto como é que o Chega conseguiu dois deputados nos Açores. Profundamente contraditório. O povo consegue muitas vezes ser inimigo de si próprio.
Na Madeira, curiosamente, a subsidiodependência é também um problema, mas nisso não falou André Ventura, preferiu o Centro Internacional de Negócios e a Lei das Finanças Regionais. Talvez porque os mais pobres não sejam os beneficiários da subsidiodependência madeirense, mas sim a nomenclatura que gravita em torno do regime. Mas isso para o Chega já não é um problema.