O Rali Vinho Madeira sempre foi uma festa.
Mais do que uma prova desportiva, mais do que a competição entre pilotos, mais do que os segundos dos segundos ou dos primeiros, para o grande público todo o ambiente à volta do rali é uma verdadeira festa. Julgo que sempre foi assim. Pelo menos é dessa forma que sempre acompanhei os ralis.
A prova provoca entusiasmo em todo o lado.
Lembro-me dos tempos de juventude de acompanhar as “corridas” em Santana. Numa determinada altura não existia qualquer prova especial de classificação naquela freguesia.
Os carros do rali limitavam-se a passar ali em ritmo de ligação. Nessa altura apesar dos carros não passarem em prova, íamos para a estrada para ver e ouvir o barulho das máquinas.
Levávamos uns cobertores e umas cobertas para nos agasalharmos durante a noite. Íamos preparados para o frio da noite e da madrugada. Nessa altura havia muitas provas à noite.
Os carros estavam carregados de faróis na parte da frente. Quando passavam por nós quase que parecia dia. Na maior parte das vezes quase que só víamos luzes potentes a passar. Mesmo assim, vibrávamos com aquilo e acabávamos por passar uns bons bocados em permanente convívio.
Por vezes era quase uma noite inteira na estrada à espera de ver os carros. A partir duma certa altura passou a existir uma prova especial de classificação em Santana. Recordo-me duma especial que passou a acontecer entre São Jorge e Santana.
Para mim e para a malta da minha zona isso foi um verdadeiro espectáculo. Curiosamente a prova terminava relativamente próximo do sítio onde eu e os meus amigos moravam. A partir dessa altura passamos a ir para uma das curvas do sítio da Fajã da Corsa para assistir à passagem dos carros. Era uma das zonas muito procuradas pelo público.
Dali dava para ver não só a curva em questão, mas todo aquele bordado traçado pela estrada regional desde a descida de São Jorge em direção à ribeira e depois uma sucessão de curvas e contracurvas até onde nós estávamos em Santana.
Foi ali que comecei a apreciar pilotos como o Ari Vatanen com o seu Ford que com a sua perícia e arrojo deliciava quem assistia, ou o Renault 5 de Joaquim Santos, ou os Fiat Abarht ou os Lancia Stratos, máquinas que pelo seu estilo e o ruído que libertavam dos potentes motores não deixavam ninguém indiferente.
Numa determinada altura para quem era de Santana, passou a existir um aliciante especial é que concorriam dois pilotos da terra. Refiro-me aos irmãos Trindade e ao Anacleto Teixeira. De resto Anacleto Teixeira no seu Fiat 127, em particular na classificativa São Jorge-Santana, talvez por ser um conhecedor privilegiado da zona chegava a bater-se quase de igual para igual com as grandes máquinas que na altura vinham à Madeira. Escusado será dizer que quando passava levava o público ao rubro.
As estradas mudaram as classificativas mudaram, os carros mudaram, mas o entusiamo e sobretudo a festa ligada ao rali parece nunca perder-se.