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Artigo de Opinião

PALAVRAS APENAS

30/07/2024 08:00

Aprendemos a viver o imediato. Apenas este aqui e agora que nos deixa, muitas vezes anestesiados, que nos leva, muitas vezes, a não conseguir parar, para olhar o que não se vê e que é muito maior do que o que temos.

Nesta cultura do já, deixamo-nos de nos preocupar com o que há de vir, porque o desconhecido é incerto, porque não sabemos o mundo de amanhã, porque nos damos conta de que a vida é um sopro e que, por isso, mais vale viver no que há. Agora. Aqui.

A verdade, porém, é que tínhamos obrigação de pensar um bocadinho mais longe, sobretudo nós, que temos à porta da nossa casa uma imensidade de azul que, como todas as imensidões, é desafiadora e assusta. Temos, ao alcance dos nossos olhos, o horizonte. (Isso é privilégio de quem vive numa ilha). Temos a curva do mar a mostrar que há mais, muito mais, do que aquilo que os nossos olhos alcançam. Mas não pensamos no que há de vir.

Dantes, ainda havia projetos – um carro, uma casa, uma família, um dinheirinho para a velhice ou para uma doença. Ainda havia futuro nos nossos horizontes. Ainda havia esperança.

Hoje, vivemos num tempo fluido, em que os dias correm, imparáveis, em direção a um vazio que, muitas vezes, não tem nome. Este é um tempo sem tempo. É um tempo imediato, um tempo feito de jás e de agoras, sem pensar no que foi, nem no que será. Na ânsia de vivermos assim, tornamo-nos prisioneiros do tempo e do espaço, reféns das marés que a vida traz. Guardamo-nos no nosso egoísmo, vivemos para nós, para o que nos pode dar a ilusão de comandarmos os nossos passos. E estamos infelizes.

A verdade é que há Horizontes. Para quem crê, um Horizonte novo, porque um Deus se fez homem, porque um Deus rasgou o véu da morte, porque um Deus...

Talvez esteja na hora de parar e de olhar para o mar: há um lugar onde o azul do mar e o azul do céu se encontram. Talvez esteja na hora de voltarmos a acreditar nos sonhos e de redescobrir a Esperança. Talvez esteja na hora.... Ainda vamos a tempo.

Há um para lá do nosso agora. É preciso voltar a aprender a viver na terra, com o coração no céu, a viver cada momento, com o olhar no amanhã, a construir agora o que havemos de viver de eternidade. É isso.

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