Num artigo recente da revista Líder, Arménio Rego, professor catedrático da Católica Porto Business School, referia que expressões da moda como “Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI)”, “Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG)”, “Responsabilidade Social” e “Gestão para a Sustentabilidade” são propagandeadas aos sete ventos. Contudo, milhares e milhares de trabalhadores auferem salários miseráveis, vivem na pobreza, estão impedidos de ter uma vida digna e sentem-se impotentes para investir na sua educação e na dos seus filhos. Desenvolvem, isso sim, um sentimento de alienação perante as narrativas inconsequentes dos seus empregadores. Isto ao mesmo tempo que governantes, empresas e respetivos líderes lamentam-se da baixa produtividade dos trabalhadores, defendendo como condição básica para aumentarem os seus salários que estes melhorem as suas qualificações. Como se a competitividade não requeresse o empenho de todos. Como se alguns fossem mais iguais do que outros, relembrando as célebres palavras de George Orwell em O Triunfo dos Porcos.
É neste contexto que surge o termo Wellbeing Washing, uma nova artimanha corporativa que é utilizada quando os trabalhadores são apresentados com uma falsa sensação de apoio. Semelhante ao Greenwashing (falso compromisso declarado de um empregador em ser amigo do ambiente), o Wellbeing Washing acontece quando uma organização parece preocupar-se com o bem-estar dos seus trabalhadores à superfície para melhorar a sua imagem externa, mas quando se aprofunda um pouco mais, percebe-se que está a fazer muito pouco. Este dourar a pílula esconde uma realidade bem mais sinistra, que encobre um conjunto de práticas tóxicas, recursos limitados e falta de segurança psicológica, sem que sejam investidos fundos em sistemas e práticas que criem mudanças reais no bem-estar. A propósito da 5.ª edição dos Healthy Workplaces Awards, prémios que reconhecem as organizações portuguesas com práticas de gestão impulsionadoras de segurança, bem-estar e saúde no local de trabalho, promovidos pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, é o próprio Bastonário a reconhecer esta realidade.
Se sentir ressentimento com aquilo que está a ser apregoado pela sua organização, comparativamente com aquilo que sente no dia-a-dia, é provável que esteja a sofrer de Wellbeing Washing, pelo que poderá adotar um conjunto de medidas: 1) Tente mudar as coisas por dentro – estabeleça parecerias internas (ex. com a equipa de Recursos Humanos) que lhe possam ajudar a manifestar as suas preocupações, expondo soluções e oferecendo-se para apoiar iniciativas que ajudem a alicerçar uma cultura de saúde mental; 2) Tenha coragem – para falar sobre saúde mental, para dar o exemplo e para efetuar uma verdadeira mudança, em vez de se limitar a dizer às outras pessoas o que está errado ou o que devem fazer; 3) Faça uma reflexão – sobre o seu ambiente de trabalho e se este impacta negativamente a sua saúde mental. Se estiver a provocar efeitos nocivos mesmo após ter tentado mudar as coisas por dentro, talvez seja altura de sair.
Embora cada vez mais organizações façam um esforço sincero para melhorar o bem-estar laboral, estas constituem ainda a minoria. Infelizmente, proliferam organizações humanamente poluentes, ávidas em praticar a última operação cosmético do momento – o Wellbeing Washing.
Relembrando as cruas palavras de Charles Duhigg, vencedor do prémio Pulitzer: “As empresas não são famílias. São campos de batalha numa guerra civil.”