Nunca compreendi o histerismo com que é brindado um ano novo, continuarei a não compreender, digamos que burros velhos não aprendem línguas. A maioria dos humanos acredita que quando o relógio dá as primeiras badaladas no dia 1 de janeiro, seja qual for o ano, as coisas mudam drasticamente, como se de um número de magia se tratasse. É um verdadeiro ato de fé.
Eu realista por natureza, talvez demasiado cético, sei que tal não irá acontecer, que no dia 1 de janeiro miraculosamente a ressaca não passará a ser agradável, que não será por ter trocado o ano que passaremos a ter arco-íris e unicórnios. É somente mais um, dia que se junta aos restantes 365 passados, que por seu turno aglomeram-se a outros 365 antigos, e assim sucessivamente.
Com isto quero dizer que nada fará a diferença em 2021, se o comportamento de cada um de nós for igual ao de 2020. E 2020 não foi alterado no dia 1 de janeiro, aliás, 2020 é a prova que o que foi feito em 2019 transitou para 2020, o bom e o mau, e o mesmo podemos dizer de 2018.
Posto isto, continuaremos 2021 como acabamos 2020, pois só as nossas mudanças fazem com que 2021 seja diferente de 2020, mas essas podem ocorrer no dia 1 de janeiro, como no dia 4 de maio, ou 25 de setembro, e às tantas só quando isso acontecer poderemos dizer, "bom ano".
Às armas e aos quadrados assinalados
Novidade nesta passagem de ano foi a implantação dos quadrados na baixa funchalense para os madeirenses darem as boas-vindas a 2021, graças à situação pandémica que, apesar de tudo, está controlada, pelo menos os casos de transmissão local "na sua maioria estão associados a contatos ou contextos de casos positivos" - abro aqui um parêntesis, no sentido figurativo, como o leitor pode reparar não há parêntesis por aqui, o que significa na sua maioria? E os que não estão em maioria? Estão como? A viver em comunidade?, fecho o parêntesis.
Apesar de, segundo o governo regional, estar tudo controlado - sou só eu que imagino a banda do Titanic a tocar sempre que alguém do governo diz que está tudo controlado? -, os madeirenses tiveram direito a assistir ao famoso fogo de artifício em quadrados devidamente assinalados e com escolta policial privada, com metralhadores e tudo, pelo menos foi o que anunciado, só faltava mesmo o arame farpado à volta dos quadrados para o ramalhete estar completo e abanarmos a bandeira branca à dignidade.
Novos 365 dias, neste momento 360
Bem, já só nos restas 360 dias para cumprirmos as resoluções de ano novo que fizemos, se é que já não foram à vida.
Desejo-vos, caros leitores, que durante estes 360 dias que falta sejam felizes. Para a humanidade em geral, um bocadinho de senso-comum, que muito faltou em 2020.