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Artigo de Opinião

Psicóloga Clínica

20/05/2021 08:02

Uma criança que tenha vivido ou esteja a viver situações de perda, como é o caso de um divórcio, falecimento de familiares próximos, amigos ou mesmo um animal de estimação, podem apresentar sintomas que se confundem com depressão, mas que no fundo não são nada mais do que respostas adaptativas à perda, ao processo de luto. Se esta sintomatologia for prolongada no tempo, limitativa nas actividades da criança e causarem alterações significativas no comportamento, já deve haver uma atenção especial para o despiste de uma depressão, que, caso seja diagnosticada numa fase inicial pode facilmente ser resolvida, mas quando prolongada no tempo, pode originar situações mais complicadas, nomeadamente alterações no desenvolvimento da criança.

Numa sociedade em que o tempo em família é cada vez mais limitado, em que as crianças passam grande parte do seu dia na escola e que o tempo para brincar é cada vez menor, facilmente podem passar despercebidas alterações de comportamento. Quando existe tempo dito "livre", há toda uma vida virtual em frente ao computador ou tablet, sem oportunidade e mesmo vontade de partilhar sentimentos, preocupações e emoções com os pais ou cuidadores. A escassez de tempo dos pais, entre as exigências laborais e domésticas, podem deixar para segundo plano a atenção aos filhos, que aparentemente estão bem. Mas chega uma altura em que não dá mais para passar despercebida a tristeza extrema, a irritabilidade fácil, a agressividade, a apatia, e mais grave ainda, o isolamento social.

Começa a ser de um sofrimento extremo ir para a escola, para actividades extra-escolares, desenvolver novas actividades e conhecer novas pessoas. O cansaço começa a apoderar-se da criança, que não entende o que está a sentir... a confusão de sentimentos é tanta que quase não sabem dizer o que se passa com elas. Os pais nesta fase já conseguem perceber que algo não está bem, mas, naturalmente, também não sabem o que se passa.

Os sintomas de depressão em qualquer fase da infância, aos quais pais e cuidadores devem estar atentos são: Mudança de humor significativa (irritado ou depressivo); Perda do interesse ou prazer por brincar; Aumento ou redução da energia; Aumento da sensibilidade (irritação ou choro fácil); Condutas agressivas e anti-sociais; Problemas de socialização; Sentimento de rejeição; Ansiedade; Atrasos no desenvolvimento psicomotor e linguístico; Negativismo e pessimismo; Auto-depreciação; Queda no rendimento escolar (diminuição da atenção, memória, raciocínio ou lentidão psicomotora); Cansaço, fadiga; Perturbações somáticas como: enurese e encoprese (urina ou defeca na cama); perda ou aumento de apetite e consequentemente peso; distúrbios do sono; Dores e sintomas físicos sem causa determinada: cefaleias, lombalgia (dores nas costas), dor nas pernas, náuseas, vómitos, cólicas intestinais, vista escura, tonturas.

Quando forem detectados sintomas que possam ser indício de uma depressão os pais devem procurar ajuda. Além da intervenção com a criança, deverá haver também uma intervenção a nível familiar para se conseguir equilíbrio e ajustamento de comportamentos que possam vir a beneficiar a recuperação da criança.

O correcto diagnóstico e intervenção atempados são factores cruciais na boa resolução deste problema, que, ao prolongar-se, poderá acarretar consequências graves para a vida presente e futura da criança.

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