A notícia é, de facto, muito importante e abre uma série de oportunidades, não só ao nível daqueles que não estavam abrangidos pela anterior legislação, que permitia o acesso ao contingente especial de 7% das vagas existentes para os candidatos das comunidades portuguesas – sendo, agora, também abrangidos os luso-descendentes com nacionalidade portuguesa que tenham nascido no estrangeiro e os portadores de dupla nacionalidade (coloco em itálico para que, por exemplo, a larga comunidade luso-venezuelana na Madeira e fora, assim como a diáspora tenham em conta esta nova realidade, que deverá ser publicada em portaria após o dia 16/7, e, por isso, efetiva no próximo ano letivo) –, como no que às instituições de ensino superior da Região diz respeito.
A qualidade reconhecida pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior aos cursos oferecidos na Madeira permite à Universidade colocar a Região no radar da captação de alunos estrangeiros e da diáspora, oferecendo uma excelente equação de ensino, qualidade de vida, clima, segurança e preço. Além disso, apresentando a Madeira plataformas de Inovação e de Startups, temos todas as condições de procurar olhar para a Região como exportadora de Ensino Superior.
Um maior investimento regional nos diversos Centros de Investigação sediados nas academias, deixando de os considerar como responsabilidade única do Ministério da Ciência e Tecnologia e de agências como a FCT, seria também uma mais valia para fomentar um dos setores de exportação que mais tem sido valorizado mundialmente nas últimas décadas. Nos Estados Unidos, este representa 22%, no Reino Unido, 11%, na Alemanha e na França, 7%. Estudos anteriores à pandemia projetavam o ensino superior e politécnico português, caso se consiga afirmar no mundo competitivo da oferta académica, como rival, no final desta década, do vinho e do calçado.
A Madeira, para poder abrir horizontes de futuro além do turismo e da área dos serviços, deve procurar afirmar-se como potencial de exportação de conhecimento, apostando no pessoal altamente qualificado, na atratividade de cérebros e em políticas de promoção de oferta do ensino superior e investigação nos mercados tidos como prioritários pelo CRUP, como Angola, Brasil, China ou Macau, e nos países da diáspora, aproveitando o mercado dos jovens portugueses e luso-descendentes.
Além do potencial económico e de desenvolvimento, investir nas instituições de ensino superior, para a Madeira significa, além disso, garantir a mobilidade social e melhores empregos. Para os que regressam, vindos dos países de emigração, é estratégico, permitindo, com experiências adquiridas noutros lugares, uma maior inovação, impacto económico, criação de riqueza e geração de emprego.
Olhar para o ensino superior como área chave de desenvolvimento significa igualmente uma nova política do espaço demográfico, combatendo a desertificação de áreas do território, esbatendo a diferença Norte-Sul e Ilha da Madeira-Porto Santo, já que será possível fixar pessoas para trabalhar, maior investimento em zonas mais esquecidas e reduzir, assim, o défice demográfico. Dar aos nossos jovens o reconhecimento do seu potencial e a esperança aos jovens emigrados e luso-descendentes de terem acesso ao ensino superior e de se poderem fixar numa Região com condições atrativas do ponto de vista da carreira é essencial. Olhemos, por isso, para o ensino superior na Madeira como coisa também nossa, setor fulcral no qual apostar, na plena consciência de que só com o seu desenvolvimento poderemos vencer os desafios de resiliência e reconstrução.
Luísa Antunes escreve
à segunda-feira, de 4 em 4 semanas