Queremos turistas. Mas não aceitamos tudo. E não tem mal nenhum ansiar pelo melhor. O que não podemos é ter a ilusão de que só o melhor dos mundos nos vai tocar na rifa e temos de saber que mesmo a ‘sorte’ de vivermos um período de incremento turístico implica trabalho extra.
Quase todos os dias assistimos a um rodopio de críticas sobre a forma como o destino Madeira está a ser aproveitado/rentabilizado. E esquecemo-nos, alguns de forma cirúrgica, de que o problema só existe porque o verdadeiro dilema está resolvido: há turistas de sobra a bem da economia regional. Dêmos graças por isso.
Não quer isto dizer que não seja necessário reajustar a oferta ao aumento da procura. Antes pelo contrário. É imperioso alterar comportamentos e adotar novos procedimentos que suavizem as queixas de quem nos visita e atenuem, também, os lamentos dos próprios residentes.
A afluência desmedida de turistas aos mesmos locais de sempre, à mesma hora, sem restrições ou qualquer tipo de coordenação, já não é possível nem faz sentido. É um problema.
O estacionamento desregrado, violando todos os códigos de estrada, tem prejudicado regulamente a circulação rodoviária. É um problema.
A ausência de superfícies de estacionamento capazes de acompanhar o substancial aumento da oferta de empresas de rent-a-car indicia desorganização. É um problema.
O desrespeito pelas mais básicas regras de segurança, ignorando sinalizações de perigo ou proibições, acrescenta preocupação. E custos – no socorro – à Região. É um problema.
Mas desengane-se quem julga que o turismo é somente uma responsabilidade do Governo Regional. Tal como em outras áreas de atividade, a obrigação de pensar a forma como o destino é experienciado tem de reunir opiniões e conselhos de todos os que tornam a Madeira uma ilha apetecível, capaz de ombrear com outros mercados do género, num segmento menos massivo e com uma identidade bem própria.
A Região continua a ser um cartaz de experiências singulares, do mar à serra. Que preserva tradições seculares, com gastronomia distinta e boa hospitalidade. Construiu momentos diferenciados, espaçados pelo ano inteiro, que contribuíram para alavancar a ocupação turística. E é preciso defender este património, reunindo todos para uma reflexão conjunta que tem necessariamente de envolver o setor público e o privado.
A Madeira é muito mais do que a ilha onde nasceu Cristiano Ronaldo, embora seja inegável que o reconhecimento mundial do futebolista contribua positivamente para a promoção do arquipélago.
O pensamento estratégico alargado sobre esta temática é crucial para a defesa do turismo regional. Que não está dependente deste ou daquele sem-abrigo a dormir na rua – porque os há em todo o lado e isso obriga a pensar não no turista, mas, sim, na pessoa desalojada –, nem da crítica fácil ou extemporânea que nada acrescenta e só cria ruído. É óbvio que é preciso mudar e/ou reajustar. Mas isso não significa que estejamos tão mal quanto é apregoado, até porque as alterações derivam do aumento da procura. Por agora continua a ser um bom problema.