Rejeitam a ideia de que o trabalho deve ser o foco central da sua vida, resistem à expectativa de darem tudo e dizem não a todo o tipo de pedidos que vão além das responsabilidades inerentes à sua função.
O Quiet Quitting (Demissão Silenciosa) é uma nova tendência iniciada na rede social chinesa TikTok e que deverá ter sido inspirada no censurado hashtag #TangPing (deitado no chão), aparentemente motivado pela cultura de longas horas de trabalho da China. Consiste em não fazer mais nada além daquilo para que nos pagam, adotando uma postura de cumprimento estrito das tarefas inerentes ao cargo, dentro do horário estabelecido. Na realidade, esta resistência passiva que se situa no polo oposto do Workaholism é um nome novo para um comportamento bem antigo.
Um estudo recente, citado pela Harvard Business Review, chegou à conclusão de que o Quiet Quitting diz menos acerca da vontade do funcionário para trabalhar e mais acerca do comportamento das chefias. Aqui, o fator confiança é determinante para que os funcionários exibam comportamentos discricionários que vão além do que lhes é exigido pela função. Quando os mesmo confiam no líder, desenvolvem relações positivas em que os interesses comuns unem e as diferenças estimulam. À confiança está associada a coerência. Além de serem totalmente honestas, as chefias precisam de cumprir o que prometem. Um outro elemento central para a confiança é a perícia, a qual traz clareza e um caminho em frente. Em suma, uma relação de confiança entre a chefia e a sua equipa dissipa significativamente o fenómeno do Quiet Quitting.
A abordagem que os líderes utilizavam no passado para obter resultados é que não pode continuar a mesma. As organizações deverão reavaliar as suas prioridades e construir ambientes de trabalho mais seguros, positivos e motivantes, adotando medidas tais como: reduzir a carga de trabalho, mantendo as tarefas que acrescentam valor e retirando aquelas que não têm impacto significativo nos resultados nem são reconhecidas; facultar aos colaboradores os recursos necessários para realizarem as suas tarefas de forma eficaz e eficiente dentro do horário de trabalho; tornar o trabalho emocionante, oferecendo experiências e oportunidades de desenvolvimento que tornam a função envolvente; repensar os benefícios, pois um funcionário que não é reconhecido nem recebe um aumento salarial/recompensa pelo seu esforço, não vai continuar a apresentar resultados.
Se, por um lado, alguns advogam que esta forma de protesto só é possível porque vivemos numa situação de pleno emprego e que perante uma recessão económica os Quiet Quitters serão os primeiros a perder o emprego, a investigação tem mostrado que os indivíduos oferecem o seu tempo, energia, criatividade e entusiasmo aos líderes e organizações que o fazem por merecer.
Parafraseando o prestigiado psicólogo organizacional Adam Grant: "Desistir silenciosamente não é preguiça. Fazer o mínimo possível é uma resposta comum a empregos da treta, chefes abusivos e salários miseráveis. Quando as pessoas sentem que não se preocupam com elas, eventualmente deixam de se preocupar também. Se quiserem que elas percorram a milha extra, comecem com trabalho significativo, respeito e remuneração justa".