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Artigo de Opinião

Vice-presidente da ALRAM

22/05/2021 08:01

No meio de tantas consequências, esta crise sanitária trouxe a garantia que trabalhar com a jornada de 7 a 8 horas, trabalhar no respetivo local de trabalho, em equipa, não significa maior produtividade. Aliás, a este propósito, convém evidenciar as correntes do “presentismo” versus “produtividade” por unidade de trabalho, ou seja, trabalhar mais tempo, não significa produzir mais. Logo, é fundamental que todos os agentes económicos aperfeiçoem os processos e os modelos organizacionais de modo que em menos tempo se produza mais.

O país tomou consciência que urge implementar medidas de organização do trabalho que permitam a conciliação com a vida familiar, aliás conforme o consagrado no artigo 59º da constituição da República Portuguesa.

O trabalho tem de estar ao serviço das famílias. E se, antes da pandemia, existia quem se escudasse na menor produtividade, ou na falta de controlo sobre as tarefas ou o número de horas executadas pelo trabalhador, para colocar entraves a outras modalidades de trabalho, hoje os números apontam noutro sentido. A pandemia veio provar que o bom trabalhador presencial é o bom trabalhador remoto.

A Direção Geral da Administração e do Emprego Público revelou, num estudo realizado a 4445 trabalhadores de 29 entidades públicas, que em 60% dos serviços, a produtividade e qualidade do trabalho manteve-se igual, quer no regime presencial, quer em teletrabalho. Há ainda a salientar que 27,27% dos dirigentes acreditam que a qualidade do trabalho melhorou devido aos trabalhadores estarem em teletrabalho.

Desengane-se quem pensa que a produtividade aumentou apenas no sector público. No sector privado os dados indicam exatamente a mesma tendência: existem ganhos de produtividade, que se estimam entre a 40 e 60% dos trabalhadores.

Na Madeira, 7,7% da população empregada esteve em teletrabalho, um número muito significativo para a realidade regional, atendendo à nossa estrutura económica. Acresce ainda que todos os trabalhadores, cuja função o permitisse, cumpriram o seu horário em formato de jornada contínua, com desfasamento de horários.

E alguns perguntar-se-ão qual a relação entre estes dados e a conciliação entre a vida familiar e a organização do trabalho. Pois bem, não só em Portugal, como em vários Países Europeus inúmeros estudos demonstram que o teletrabalho ou trabalho remoto e a flexibilização dos horários permitem um maior grau de satisfação pessoal e um melhor desempenho profissional.

Observamos diversas vantagens destas modalidades, quer seja o teletrabalho, trabalho remoto, jornada contínua de trabalho, trabalho a tempo parcial ou em regime de horário concentrado, ou ainda outros modelos que se possam vir a consagrar no âmbito laboral.

Já ensaiamos, na Região, estes modelos de flexibilidade do tempo de trabalho, que promovem, quando por opção do trabalhador, efetivos benefícios: maior qualidade de vida e bem-estar, mais promoção da saúde física e psicológica, maior disponibilidade e apoio à vida familiar, e constituem também,  um potencial  incentivo à natalidade. Obviamente que há atividades profissionais que, devido à sua natureza, não podem nunca ser realizadas nestes moldes.

Para o sucesso de toda esta (re) organização do trabalho, que deveríamos desde já adotar, estou certa que importa ter maior produtividade. Mas também estou certa que é este o momento para iniciar novos modelos de organização do trabalho que sejam sempre compatíveis, e em consonância, com o setor empresarial privado e o setor público.

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