Os fogos de artifício e foguetes do fim de ano trouxeram momentos de celebração para muitos, mas também situações de aflição, sobretudo para os seres vivos cuja segurança e bem-estar ficam em risco com este tipo de festejo.
Para além de todas as questões ambientais, é sabido que o lançamento de fogo pode ser prejudicial para a saúde dos animais domésticos, podendo traumatizá-los uma vez que a perceção do som, tanto para gatos como para cães, é muito mais intensa do que nos humanos. Assim, o ruído súbito e estrondoso pode provocar stress, tremores, ataques cardíacos, convulsões ou outras lesões resultantes da procura desenfreada por um local seguro. No caso dos animais silvestres, o fogo de artifício leva mesmo à morte, por exemplo, de aves que voam sem direção e que chocam fatalmente contra edifícios.
Nos últimos dias, vários apelos têm sido divulgados nas redes sociais, tanto de tutores que procuram os seus animais desaparecidos como de pessoas que encontram animais desorientados e feridos nas ruas, como são disso exemplo as imagens que reproduzimos acima.
A ANIMAD relatou o caso de uma cadela que fugiu de casa no dia 31. “A Cookie assustou-se com o fogo, estragou a vedação que era até segura e fugiu,” explicou a responsável pela associação, Natália Vieira. Horas depois, foi encontrada na berma da Via Expresso da Camacha, na zona do Boieiro, atropelada e abandonada.
Resgatada pela associação, a cadela sofreu uma fratura na pata e será operada na próxima segunda-feira. “Temos visto muitos apelos nas redes sociais sobre animais desaparecidos e encontrados, e temos estado atentos na procura,” referiu a responsável da ANIMAD ao JM.
Tierri Alveno, presidente da direção da associação Vamos Lá Madeira, relatou ao Jornal o caso de uma cadela encontrada desorientada no Porto do Funchal, que foi rapidamente devolvida ao dono, pois tinha microchip. “Foi resguardada por algumas pessoas que trabalham ali até chegarmos com o leitor de microchip,” explicou Tierri.
Para além desse caso, registou “somente outro pedido de partilha, mas fomos informados de que essa cadela também já foi encontrada,” afirmou.
Da parte do Patinhas Felizes, Mena Valdeira conta que a associação acolheu uma cadela que “andava na estrada, completamente desorientada por causa do fogo”.
Fogo silencioso é improvável
Quando questionado sobre a implementação de fogos de artifício silenciosos, que aconteceu nomeadamente em Quarteira, no continente, Tierri Alveno defendeu que esta deveria ser uma medida global. “Não só os animais domésticos estão em perigo, mas também os silvestres. Imensas aves morrem após o espetáculo de fogo de artifício,” alertou.
Contudo, o responsável reconheceu os desafios desta mudança na Madeira, dada a relevância económica e cultural do espetáculo pirotécnico. “Podemos sempre ter esperança, mas não acredito que o nosso Governo esteja preparado para mudar isto,” lamentou.
Natália Vieira partilha da mesma visão, afirmando que é “complicado” pensar numa mudança naquele que é um cartaz turístico com muito peso. Reconhece, no entanto, que “podíamos, sim, ir mudando pouco a pouco e mentalizar cada vez mais as pessoas para este problema”.
Por seu turno, Mena Valdeira entende que, apesar de o rebentamento do fogo fazer parte do cartaz turístico, o fogo silencioso “seria também muito bem visto pelos turistas”. “Fogo, sem som, acompanhado de música e laser. Já fazem no continente e em vários países da Europa. Seria muito bem visto”, defende, alertando que “os animais sofrem horrores” com este tipo de festejo.
Ademais, Tierri Alveno defendeu ainda a proibição da venda de fogo ao público em geral, limitando-o a empresas com licença para tal.