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Artigo de Opinião

2/02/2021 08:00

Várias classes profissionais vieram de imediato pedir para si e o debate sobre as prioridades instalou-se rapidamente. A vacinação contra a covid-19 teve início há pouco mais de um mês. Apesar do pouco tempo, já muita tinta correu, sobretudo em função das vacinações indevidas. O escândalo foi de tal ordem que já levou a demissões no INEM e na Segurança Social. Nada de novo no país do chico-espertismo. O Governo já teve de alertar que a utilização indevida de vacinas pode ser criminalmente punível. Em momentos de perigo o instinto de sobrevivência traz o pior das pessoas, principalmente o apodrecimento dos valores morais. Pergunto-me se estas pessoas que levaram antes do seu tempo a vacina, não têm pais e avós? Porque querer tomar antes deles, para mim, é um ato execrável.

O pontapé de partida foi dado pelo Presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz, que postou orgulhosamente uma fotografia a ser inoculado com a vacina, enquanto presidente da direção da Fundação Dona do Lar. Quando todos nós sabemos que o presidente não presta cuidados diretos aos utentes do lar e que a prioridade na atribuição de vacinas devia ser dada apenas aos funcionários que cuidam dos idosos. No INEM do Norte, foi cão e gato vacinado, desde diretores, assessores, administradores e informáticos até os proprietários da pastelaria da esquina. Pasme-se!

O vírus alastra-se mais rápido do que conseguimos vacinar e num momento em que assistimos a tantas mortes precoces é indecoroso termos de assistir a estes abusos.

No entanto, não acho que só a questão biológica, como é o caso da idade e da saúde, deva ser motivo para prioridade na vacinação. A decisão do Governo em priorizar os profissionais de saúde é correta. O que seria do Serviço Nacional de Saúde se começássemos a ter baixas nos médicos, enfermeiros e auxiliares. Inimaginável, não tínhamos como os substituir. Também não entro no debate oportunista e populista em que os políticos não devem ser vacinados. O discurso sobre nós o povo e eles os políticos, cria um fosso muito perigoso à democracia. E é muito bonito aparecerem deputados a prescindir da vacina publicamente quando são jovens e saudáveis, resta saber se tivessem mais de 60 anos e alguma doença que os colocasse no grupo de risco se tomariam a mesma decisão abnegada.

Não me choca que os altos cargos da nação como o Primeiro-Ministro, o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e a Comissão Permanente, assim como os líderes partidários sejam priorizados, sobretudo se a idade for avançada e houver doenças associadas. Vejamos o caso de Marcelo Rebelo de Sousa: o exercício do cargo não lhe permite grande resguardo e distanciamento social, e considerando a idade que tem, seria um absurdo pormos a sua saúde e vida em risco para servir o país, quando temos a vacina.

Agora vacinar os 230 deputados, parece-me excessivo e abre a porta ao populismo que tanto dizemos querer combater. Não foi por acaso que a Assembleia da República acabou por mandar apenas uma lista de 50 pessoas para serem vacinadas, perceberam que pecaram por excesso. Na Madeira, ainda não se sabe qual será o critério adotado, pelo silêncio que se faz sentir, pressinto que o assunto não é consensual. Só espero que o chico-espertismo do salve-se quem puder não tenha chegado à pérola do Atlântico. Haja solidariedade e bom-senso.

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