Dezenas de trabalhadores da hotelaria manifestaram-se hoje no Funchal contra a proposta patronal de aumentos salariais de 5,5% ou de 53 euros para 2025, num momento em que o setor regista “recordes” de receita.
Aos jornalistas, o coordenador do sindicato Adolfo Freitas disse não ter ainda números da greve iniciada às 00h00 de hoje, nem se há registo de serviços afetados, mas garantiu que a luta é para continuar.
O coordenador considera que seria “uma traição” aos trabalhadores se o sindicato assinasse a proposta dos patrões. Adolfo Freitas lembra que a proposta negociada com os patrões o ano passado [+6,5% ou mínimo de 62 euros e uma diuturnidade para quem tem 25 anos de casa] foi superior à que os patrões propuseram agora, apesar de este ano os hoteleiros terem tido receitas superiores. Para 2025, a proposta dos patrões vai colocar “trabalhadores com 10, 15 ou 20 anos a ganhar o valor do salário mínimo” que, no próximo ano, será de 915 euros – denunciou.
Por seu turno, o sindicato exige um aumento de 75 euros para todos os trabalhadores.
Adolfo Freitas denunciou, por outro lado, que as empresas hoteleiras têm recorrido a serviços “outsourcing”, nas áreas da limpeza, arranjo de quartos, manutenção, segurança, e a imigrantes para não se comprometerem com vínculos com trabalhadores. Sobre os imigrantes, que são cada vez mais nos hotéis, Freitas disse que estes estão a ser “espremidos como a uva no lagar para levar para casa o salário mínimo” da hotelaria, que “atualmente é de 862 euros”.
Na perspetiva sindical, enquanto os patrões apresentam resultados recorde, os trabalhadores continuam a ganhar salários médios que “não chegam a 1.100 euros”.
Sem contar com os prestadores de serviços, hoje, há perto de 4.000 trabalhadores no setor da hotelaria, sendo que 1.300 a 1.400 são sindicalizados.
“Tem havido uma grande sangria nos últimos anos por parte do patronado em se ver livre dos trabalhadores da hotelaria. Isso é o caminho que eles querem. É baixar salários para os trabalhadores ficarem desgastados e se irem embora”, referiu.
Sobre os efeitos da greve na noite de fim de ano, cuja taxa de ocupação ronda os 100%, Adolfo Freitas disse que a “bola está do lado dos patrões”. Questionado se os serviços poderiam ficar comprometidos pela greve, o coordenador respondeu que essa responsabilidade será dos patrões. “Nós sempre dissemos que só aceitaríamos aumentos que valorizassem os trabalhadores”, afirmou.
“Este não é o fim da luta, é o início”, disse ainda, admitindo que novas greves possam ser marcadas. “Não nos vamos render. É uma garantia que deixamos”, vincou.
A manifestação concentrou-se junto ao Casino da Madeira, desceu a Avenida Infante, atravessou a Avenida Arriaga e concentrou-se no prédio da Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura.
Os manifestantes impuseram palavras de ordem o percurso todo, sob o olhar de muitos turistas com quem se foram cruzando ao longo do trajeto.