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Artigo de Opinião

silviamariamata@gmail.com

20/10/2024 05:00

Aqui d`el-rei, que eu, com a vida sempre numa carestia, não consegui guardar um tostão a modo para a minha velhice. E não vale a pena dizer que foi por isto ou por aquilo que vai haver sempre gente a dar quinhões e a dizer “fizesses assim e assado”, que eu fiz tudo isso. Deu para o que deu e eu não sou de dizer “gratidão ao universo”, mas digo “muito obrigada a Nosso Senhor, que tudo pode”, que foi assim que meu pai me ensinou.

Meu pai não era rico, minha mãe também não. Deram-me instrução e ensinaram-me boas maneiras, às vezes com alguma chapada de mão virada para eu não ser bruta, mas sabida e aprender alguma ronha para levar a vida, que isso é muito preciso. E sim, deixaram-me um belisco de terra que já vinha de meu avô e está bem bom assim. Muito obrigada a Nosso Senhor e à minha família.

Segui as pegadas e o exemplo dos meus velhos, foi assim que vi e aprendi: fiz a casa de família, criei a prole, dei-lhe estudos e educação. E tudo correu mais ou menos bem com a minha ginástica de vida.

Agora, quando eu pensava que podia descansar, rebenta tanta coisa em casa, na casa que também já é velha, como eu, e é preciso arranjar tudo de novo: os canos, a pintura e os móveis, que já estão fora de moda, mas esses eu não deixo os pequenos jogarem pela porta fora, que a gente morre todos, mas essa antiguidade, que não é como a mobília de agora, cá fica para aí para os eternos, que não se leva nada deste mundo!

É verdade que já sou velha, mas também, cá para nós, neste tempo, não queria ser nova. Aqui d`el-rei, que esta juventude anda sempre em apuros para arranjar o seu futuro! Sempre em casa dos pais, assistindo às reparações infinitas e vagarosas de coisas velhas. E não vale a pena eles se porem com finuras, porque quem tem voz ativa e trocados para gastos aqui são os velhos. Coitados deles!

E por falar em juventude, a contro-dia chegou à escola um jovem para fazer estágio com os professores mais velhos. Eu fiquei muito contente e dei-lhe logo as boas-vindas. Claro está que já lhe perguntei se o ordenado dele era justo e etc. Fiquei espantada quando o triste me respondeu que não recebia nem um cêntimo. É verdade! Nem sequer o dinheiro do passe, nem o subsídio de refeição. É preciso os pais lhe darem um troquinho! Pois está claro! Os velhos servem para isso! Fiquei reinando! Então todos os estagiários recebem uma remuneração pelo seu trabalho e os professores não? Porquê? Aqui d`el-rei que isto está mal injusto para estes pequenos! Ser professor, afinal, é uma brincadeira? Venham ver o que é suar numa sala de aula, dar conta de todos os vinte e tal, lidar com tudo ao milímetro e ao mesmo tempo: didática, pedagogia e civismo. E é assim que se conquistam jovens para o Ensino? Depois diz-se que os jovens são a riqueza e o futuro de um país. Eu quero acreditar que sim. Mas onde? Em que país? Aqui d`el-rei, que isto vai entortar de vez! Será que o Alberto João sabe disto tudo e não diz nada?

O melhor mesmo é os professores esperarem pela aposentação, porque aí sim, vão ser chamados para ensinar a malta jovem e vão receber uma recompensa! Estou desejando! Pode ser que nessa altura, me dê na cabeça em dar bengaladas aos rapazes e raparigas que dizem “fod..se cara...” como se nada fosse, e àquelas com unhas de metro e meio que não sabem pegar num lápis, e também àquelas vestidas com “shorts” que mais parecem cuecas do tempo de meu pai! Pode ser! E pode ser que com esse ganho extra, eu consiga finalmente guardar dinheiro para o meu caixão, que também é uma carestia, e assim não dou despesa nenhuma a esta juventude que nada tem nem nada pode e precisa dos velhos para comer.

Aqui d’el-rei, que isto vai de mal a pior!

Sílvia Mata escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas.

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