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Artigo de Opinião

Psicóloga Clínica

4/11/2021 08:01

A azáfama da vida faz-nos passar ao lado de pequenas tão grandes coisas, talvez as mais importantes, pois temos tanto a fazer em tão pouco tempo, que são as 24 horas de um dia. E 24 atrás de outras 24 horas, e por aí adiante. Não nos apercebendo do que estamos a deixar para trás.

Temos de trabalhar, é certo. Devemos perseguir os nossos sonhos e objetivos, também defendo. Mas também temos de parar para respirar fundo, para sentirmos o que se passa à nossa volta, para olharmos pequenos pormenores que fazem toda a diferença quando vistos "com olhos de ver".

A sociedade formatou-nos para não nos permitirmos parar, pois "seria errado". Não, nada disso. Vejo muitas pessoas em modo automático, a sobreviverem, sem aproveitarem realmente o dom da vida. Dei por mim também quase sem tempo para parar. Mas a vida deu-me o abanão de perder as pessoas que anteriormente mencionei. Dei por mim a perguntar-me, ao som de uma música que estava a passar na rádio ("If I leave here tomorrow" _ "Se eu não estiver cá amanhã"), "E se eu amanhã já cá não estiver, o que levo desta vida? O que estou a fazer para que a minha passagem por cá tenha valido a pena?". E chorei. Corriam-me as lágrimas rosto abaixo. Tive um momento de reflexão e introspeção sobre o que realmente importa. E o que realmente importa é a forma como eu me sinto cada dia comigo mesma, com a minha família, os meus amigos, colegas e clientes que confiam no que tenho para lhes oferecer, com dedicação. Importa ainda o que vou construindo e ao mesmo tempo sentido, sem automatismos, mas com paixão. Nesse momento decidi parar uns dias, ter um tempo para mim, para me reencontrar. E assim fiz, no passado fim-de-semana.

No meio da natureza encontrei pessoas boas, simples e honestas, pessoas com um trato fácil que sorriem com facilidade e que vivem a vida a um ritmo bem próprio. Pessoas com tempo para uma conversa singela, sem rodeios ou floreados. Pessoas com vontade para oferecerem um chá (e que bom que era aquele chá!) e emprestarem um bule que voltaria a seu dono no dia seguinte. Pessoas que fazem a nossa vida também ter sentido. Senti-me tão acolhida, tão inspirada pela simplicidade de querer bem, que me senti de coração cheio. E sorri, muito. E é tão bom sorrir, do nada e por tudo. Tão bom sentir a vida!

Quando regressei a casa sentia-me uma outra pessoa. Revigorada e com uma perspetiva diferente da vida e das pessoas. O que acho mais curioso é que essas pessoas estão perto de nós, estão nas nossas vidas, mas muitas vezes nem nos apercebemos, nem elas sabem do seu valor e do quão bem fazem, apenas por existirem. O corrupio não permite que nos apercebamos do valor da vida, do valor das pessoas, do valor da tranquilidade de um sorriso sereno.

Agora escrevo a sorrir, apesar de ter começado este texto com a tristeza da saudade daqueles que partiram prematuramente, mas sei que deixaram um legado. As gargalhadas sinceras, a paixão pela ajuda ao outro, a dedicação às pessoas, a alegria de viver. Sim, nisso não serão esquecidos.

E nós? Como vamos viver para um dia sermos lembrados? Acredito que quem parar e olhar para dentro de si, vai encontrar a resposta mais sincera e verá que a vida vale tanto a pena!

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